Por Anaïs Fernandes, Valor — São Paulo
A pressão inflacionária no fim de 2020 trouxe um "dezembro amargo" para os trabalhadores nas negociações salariais do período. Pela primeira vez no ano passado, o reajuste mediano ficou abaixo da inflação, tendência que deve se repetir ao longo de 2021.
"A inflação pulou de 4,8% para 5,2%, deu um repique. Em uma recessão, são poucas as empresas que podem repor uma inflação dessas, porque elas não conseguem repassar isso para o preço", diz Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e coordenador do Projeto Salariômetro.
No ano como um todo, o reajuste salarial mediano foi de 3,5%, empatado com o INPC médio, mas abaixo dos 4% oferecidos em 2019, que geravam um ganho real sobre a inflação média de 3,7%. "A inflação cresceu, a recessão se aprofundou, então os reajustes caíram. É triste, mas não é surpreendente", diz Zylberstajn.
Por André Mizutani, Valor — São Paulo
Enquanto no Brasil o Banco Central já começou a preparar o terreno para uma alta de juros, a maior parte dos países emergentes comparáveis ao país ainda está distante desse movimento. Alguns até debatem a possibilidade de promover cortes adicionais em suas taxas. É o caso da África do Sul, México e Rússia.
Ontem, os bancos centrais da Turquia, África do Sul e Indonésia divulgaram as suas decisões de política monetária e todos eles mantiveram as suas taxas de referência estáveis.
No caso da África do Sul, a decisão aconteceu com um placar bastante dividido: três votos a favor da manutenção dos juros, a 3,5%, e dois a favor de mais um corte, com o comitê de política monetária do país apontando que a lenta recuperação econômica deve manter a inflação abaixo da meta até 2022. A leitura mais recente de inflação no país é de 3,1%, em dezembro.
O BC da Indonésia foi mais neutro na linguagem usada no comunicado, dizendo que a decisão de manter os juros estáveis em 3,75% se baseou na expectativa moderada para a inflação. A leitura mais recente de inflação no país foi de 1,7% em dezembro.
O PIB da maior economia do sudeste asiático sofreu contração de 3,49% no terceiro trimestre de 2020, mas o presidente do banco central espera que o a economia tenha terminado 2020 com contração de 1,0% a 2,0% e volte a crescer em 2021, com expansão de 4,8% a 5,8%.
Por Edna Simão e Fabio Graner, Valor PRO — Brasília
O governo federal incluiu no seu cardápio de possíveis medidas de estímulo à economia neste início de ano fazer uma nova rodada de diferimento (adiamento do recolhimento) de tributos para as empresas.
Assim como aconteceu no primeiro semestre do ano passado, na linha de frente das ações de combate aos efeitos econômicos da pandemia, a ideia é dar um pouco mais de folga no caixa das empresas, uma espécie de capital de giro, para que elas possam ter maior capacidade produtiva e, se possível, abrir um espaço para o investimento.
Um técnico da área econômica frisou que esse é um instrumento que já foi usado e que está sendo discutido nesse momento. Além disso, o governo avalia a possibilidade de antecipação do 13 salário das aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e do abono salarial — estratégia também adotada no início da pandemia. Essa medida envolveu R$ 24,3 bilhões.
Por Lucianne Carneiro, Valor — Rio
O volume de vendas no varejo restrito recuou 0,1% em novembro na comparação com outubro, já descontados os efeitos sazonais, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com novembro de 2019, o varejo restrito subiu 3,4%.
Com o resultado, o comércio restrito acumula alta de 1,2% em 2020 até novembro de 2020 e aumento de 1,3% em 12 meses.
O resultado de novembro para outubro veio pior que a mediana das projeções coletadas pelo Valor Data, apurada junto a consultorias e instituições financeiras, que era de alta de 0,3%.
O indicador ficou dentro do intervalo das estimativas, que iam de recuo de 0,6% até elevação de 1,5%. A alta de 3,4% ante novembro do ano passado também foi pior que a esperada. A expectativa era de alta de 4,6%.
A receita nominal do varejo restrito, por sua vez, subiu 1,1% em novembro ante outubro. Na comparação com novembro de 2019, a receita nominal do varejo restrito subiu 11,6%. Em 2020, no acumulado do ano até novembro, a receita nominal do comércio acumulou alta de 5,6%. Em 12 meses, há aumento de 5,7%.
No varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e motos, partes e peças, e material de construção, o volume de vendas subiu 0,6% em novembro na comparação com outubro, já descontados os efeitos sazonais. Os analistas esperavam alta de 1%, conforme a mediana das estimativas apurada pelo Valor Data. Na comparação com novembro de 2019, o volume de vendas do varejo ampliado subiu 4,1%. A expectativa era de alta de 5%.
No acumulado de 2020 até novembro, o varejo ampliado cai 1,9% e, em 12 meses, recua 1,3%.
Já a receita nominal do varejo ampliado aumentou 1,6% em novembro. Em relação a novembro de 2019, a receita sobe 12,4%. A receita do varejo ampliado aumenta 2,4% no acumulado do ano e sobe 2,9%% em 12 meses.
As vendas do comércio na passagem de outubro para novembro avançaram em cinco das oito atividades pesquisadas no varejo restrito, que não inclui automóveis e material de construção, de acordo com o IBGE, que anunciou hoje a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de novembro. Na comparação com novembro de 2019, cinco das atividades tiveram retração.
Em novembro, o setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-2,2%) foi o principal fator negativo no mês nas vendas do varejo restrito. Também houve quedas de vendas em combustíveis e lubrificantes (-0,4%) e móveis e eletrodomésticos (-0,1%).
No varejo ampliado, que inclui automóveis e peças e material de construção, houve alta de 3,5% no volume de vendas de Veículos, motos, partes e peças. O setor de material de construção teve recuo de 0,8
Em novembro de 2020, das 27 Unidades da Federação, 14 apresentaram alta no volume de vendas, na comparação com o mês imediatamente anterior. Na comparação com novembro de 2019, houve expansão no volume de vendas em 19 unidades da Federação.
Por Lucianne Carneiro e Gabriel Vasconcelos, Valor — Rio
O fim da produção da Ford no Brasil pode representar perda de até 0,06% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro de 2021 — o que representa R$ 3,8 bilhões — e de 0,28% no resultado acumulado ao longo de 20 anos até 2040 (R$ 16 bilhões). Os cálculos são de pesquisadores do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional, da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG).
As estimativas não consideram eventual substituição da produção da Ford por concorrentes nem a incorporação de suas fábricas por outras empresas. Mas, mesmo que isso ocorra, as perdas para a economia ainda seriam significativas e não há cenário de impacto neutro, dizem os pesquisadores. O estudo aponta destruição de mais de 50 mil vagas formais de trabalho diretas e indiretas só neste ano devido à decisão da Ford, considerando toda a cadeia produtiva. As perdas de postos de trabalho se acentuariam até 2025 (com mais de 70 mil), mas aos poucos vão sendo reduzidas, até pouco mais de 11 mil em 2040.
É este um dos aspectos que tornam mais grave a decisão da Ford, segundo especialistas: o efeito cascata em outros ramos da cadeia de suprimentos de uma montadora de peso, sobretudo siderurgia, plástico, borracha e química. Há quem acredite, no entanto, na tendência de substituição dessa produção por concorrentes em um cenário de alta capacidade ociosa do setor no Brasil, em torno de 40%.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os nove meses sob a pandemia do coronavírus em 2020 deixaram estragos na situação das micro e pequenas indústrias de São Paulo.
Para 60% dos empresários, a crise ainda é forte, afeta muito os negócios e não há previsão de uma recuperação sólida.
A constatação aparece em pesquisa Datafolha feita para o Simpi (Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias de São Paulo) na primeira quinzena de dezembro.
Questões que marcaram a indústria brasileira no último ano, como o desabastecimento de insumos, ainda persistem. "Vejo o ano com preocupação. De setembro para cá, começamos a ver forte alta em preços, mais indústrias sofrendo com falta de matéria-prima e atraso na entrega", afirma Joseph Couri, presidente do sindicato.
Na primeira quinzena de dezembro, 93% das micro e pequenas indústrias estavam pagando mais por insumos. Em setembro, eram 84%. Entre os que relataram falta de materiais, o percentual passou de 54% há pouco mais de três meses, para 78% no fim do ano passado.
Os atrasos nas entregas afetavam 73% das micro e pequenas indústrias em São Paulo -51% tinham essa queixa em setembro.
Couri diz que dificuldades no acesso a linhas de crédito também contribuíram para a interrupção das cadeias produtivas, uma vez que muitas empresas precisaram fechar as portas a partir do início da pandemia.
Além disso, as demissões de trabalhadores e medidas como redução de jornada e salário e suspensão do contrato de trabalho derrubaram o poder aquisitivo dos consumidores e afetaram a demanda.
Quando o consumo foi retomado, muitos dos elos da cadeia estavam desmobilizados.
"Vemos que o desabastecimento vem ocorrendo no resto do mundo. A diferença é que outros países conseguem priorizar suprimentos no mercado interno. Aqui, infelizmente, estamos tendo problema de crédito e o reflexo disso na produção", afirma o presidente do Simpi.
Segundo o Datafolha, 77% das empresas disseram não ter acesso à crédito durante a crise. Esse percentual já foi maior -em abril, 91% não conseguiram dinheiro emprestado.
No fim de 2020, 61% das micro e pequenas indústrias afirmaram ter exatamente o capital de giro necessário para manter o negócio, o melhor resultado desde junho. Essa melhora na situação do caixa pode também ter elevado a percepção de que o ano que acaba de começar seja melhor do que o anterior.
Quase metade dos empresários -48% deles- está com expectativas positivas para os negócios em 2021. Somente 8% disseram estar pessimistas.
O ânimo é maior entre as pequenas e no interior do estado -52% acham que 2021 será ótimo ou bom. Na região metropolitana de São Paulo, 44% dos empresários estão otimistas com os negócios.
A defasagem no capital de giro também diminuiu no fim de 2020, com menos empresários com dificuldades. Em junho, 62% dos micro e pequenos industriais estavam com caixa insuficiente. Em dezembro, eram 32% em dezembro.
"Tomara que o otimismo se concretize, mas não vejo dado econômico que permita construir esse cenário", diz Joseph Couri, presidente do Simpi.
Em dezembro, 51% das empresas ouvidas pelo Datafolha estavam funcionando normalmente, e 20% tinham uma parte das atividades paradas. Praticamente o mesmo percentual (21%) informou que estava funcionando, mas com a maior parte das atividades paradas.
A pesquisa Datafolha identificou uma queda no número de pequenas e micro indústrias correndo o risco de falência ou recuperação judicial. Entre as micro, 17% diziam, em junho, que o negócio poderia falir. Em dezembro, eram 7%. Nas pequenas indústrias, o percentual saiu de 10% para 5% no mês passado.
Também em junho, 16% das micro indústrias viam chances de iniciar uma recuperação judicial. Ao fim de 2020, somente 3% consideram essa possibilidade. Entre as pequenas, a recuperação judicial era um risco em 10% e caiu a 6% em dezembro do ano passado.
https://br.financas.yahoo.com/noticias/crise-ainda-afeta-muito-os-170900722.html