Que o Pix vai trazer muitos benefícios para as pessoas físicas, não é surpresa. O novo serviço de transferências do Banco Central, que entra em vigor no dia 16 de novembro, vai permitir que os brasileiros enviem e recebam dinheiro 24 horas por dia, sete dias de semana, e de forma gratuita. Para as pessoas jurídicas, porém, a instituição financeira poderá cobrar taxas, mas com preços melhores do que os TEDs e DOCs.
Em um primeiro momento, tudo isso vai resultar em perda de receita para os bancos, principalmente os tradicionais. Segundo a agência americana de classificação de risco Moody’s, as instituições financeiras devem sofrer queda de 8% no faturamento vindo de tarifas. A chegada do Pix também pode colocar fintechs e plataformas de pagamento em pé de igualdade com os gigantes dos serviços financeiros.
Ainda assim, nas últimas semanas não faltaram propagandas, sorteios e promoções para impulsionar o cadastro dos correntistas no Pix. Essa balança que pende mais para o lado dos clientes, do que para as instituições financeiras, levantou dúvidas nos usuários: por que os bancos parecem ‘felizes’ em oferecer um serviço que, aparentemente, não vai dar lucro nenhum e vai minar parte da receita?
O que os bancos tradicionais deixam de perder
Segundo Carlos Netto, CEO da empresa de desenvolvimento de tecnologia para o mercado financeiro Mattera, o primeiro ponto para entender essa questão não passa pelo que os bancos tradicionais ganham com o novo serviço, mas pelo que deixam de perder.
“Em um primeiro momento, o incentivo ao Pix é muito mais para não perder os clientes”, afirma. “Hoje, a maioria tem um ‘banco domicílio’ para pagar as contas de água, luz, IPVA, entre outras, já que muitas fintechs não conseguem ofertar essa opção. Isso vai mudar com o Pix, o que pode deixar qualquer conta de fintech tão boa quanto uma conta bancária comum”, diz Netto.
É importante lembrar que, atualmente, uma grande barreira de entrada no mercado de serviços financeiros envolve as ofertas de pagamentos de contas. É muito caro para um novo entrante se conveniar com todas as concessionárias de água, luz, esgoto e etc, para oferecer aos clientes o pagamento desse tipo de boleto pelos aplicativos.
O Pix vai encurtar esse caminho, já que o serviço terá convênio com essas grandes concessionárias, como a Agência Nacional de Energia Elétrica, e o processo não precisará ser feito individualmente pelas empresas. Logo, apenas com o Pix, as fintechs e plataformas de pagamento de menor porte terão sanado essa dificuldade – o que nivela os serviços oferecidos por pequenas e grandes instituições financeiras e incentiva a migração de clientes de um banco para o outro.
Bruno Magrani, diretor de relações institucionais do Nubank, falou sobre essa questão na live do E-Investidor. “Para uma instituição financeira oferecer o pagamento de uma conta básica, é necessário que essa instituição esteja conveniada com essa concessionária. Se eu quero que o usuário consiga pagar seus tributos de qualquer lugar do Brasil, eu tenho que ter convênio com os mais de 5000 municípios do País. É um custo alto, uma ineficiência enorme.”
Além de favorecer a competitividade, a conjuntura faz com que os bancos batalhem para que os correntistas se fidelizem. E um grande ‘sinal’ de que essa fidelização está acontecendo é por meio do cadastro das principais chaves Pix em uma determinada instituição financeira. “Quando o usuário concentra seus pagamentos e recebimentos em uma instituição, a contratação de outros produtos acontece de forma natural e o banco ganha de formas relacionadas”, diz Maurício Guerra, gerente de desenvolvimento de negócios da Sicredi Vale do Piquiri.
Além disso, na corrida pela captação de clientes através do Pix, quem sai na frente são as fintechs, e não os grandes bancos. Os atuais ‘campeões’ em cadastramento de chaves, de acordo com o Banco Central, são Nubank, Mercado Pago e Pag Seguro. “Imagina a situação de um bancão olhando isso e pensando no risco dos correntistas irem para essas fintechs e usarem elas como banco principal”, diz Netto.
Evolução dos pagamentos é inevitável
Fora as fintechs, que ganham em condições de competitividade com os bancos tradicionais, as demais instituições financeiras deverão estar abertas às novas formas de encarar o mercado de pagamentos para ganhar dinheiro.
“É inevitável ter uma perda de receita, seja nos TEDs, na receita do cartão ou nas maquininhas. Tudo isso vai impactar no financeiro”, diz João Bragança, gerente especialista em meios de pagamento da consultoria Roland Berger. “Efetivamente não há muito a ganhar no Pix para um banco grande, mas é uma necessidade de transformação. Os serviços financeiros que conhecemos até hoje serão diferentes no futuro e o Pix vai fazer com que os bancos brasileiros tenham que explorar a transformação digital.”
O especialista ressalta ainda que os bancos brasileiros são muito sólidos e como o novo serviço irá fazer com que essas instituições se preocupem mais com a experiência do cliente, esse processo de mudança pode acontecer de forma mais rápida. “O cadastro das chaves, no caso dos bancos grandes, é um movimento defensivo, para não perder clientes. Mas eles têm que fazer mais do que isso. São os clientes que vão fazer essas organizações preservarem oportunidades de rentabilidade no futuro”, diz Bragança.
Fonte: Estadão.
Por Agência Estado
O comércio varejista deve contratar quase 20% menos trabalhadores temporários neste Natal em relação à mesma data de 2019, calcula a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A entidade estima que 70,7 mil trabalhadores temporários serão admitidos para atender ao aumento das vendas neste fim de ano, ante um total de 88,0 mil postos temporários criados no ano passado. A geração de vagas será a menor em cinco anos.
Principal data comemorativa do varejo, o Natal deve movimentar R$ 37,5 bilhões em vendas em 2020, aponta a CNC.
As oportunidades de empregos devem ser mais concentradas nos meses de novembro e dezembro. As previsões da CNC consideram dados históricos de admissões e desligamentos no comércio varejista do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). As projeções de trabalho temporário consideram a expectativa da entidade de um avanço de 2,2% das vendas para o Natal em 2020.
“Do ponto de vista da reativação do consumo, a segunda metade deste ano tende a favorecer as vendas e, consequentemente, as contratações voltadas para as datas comemorativas do semestre. Neste ano, apesar da inflação baixa e dos juros básicos no piso histórico, o comportamento das vendas seguirá ditado pelo ritmo de regeneração do mercado de trabalho, pela evolução das vendas online e por medidas voltadas para mitigar os efeitos da recessão como, por exemplo, o auxílio emergencial”, escreveu o economista Fabio Bentes, da CNC, em nota oficial.
O setor de vestuário e calçados deve abrir 30,7 mil vagas para o Natal, o que corresponde a pouco mais da metade dos 59,2 mil postos criados no ano passado.
As lojas de artigos de uso pessoal e doméstico devem gerar 13,7 mil empregos temporários este ano, enquanto hipermercados e supermercados abrirão outras 13,4 mil vagas. Os três segmentos devem responder juntos por cerca de 82% das vagas oferecidas pelo varejo neste fim de ano.
Todas as Unidades da Federação devem criar menos oportunidades de empregos temporários no comércio varejista do que no ano passado. Os Estados que mais abrirão vagas neste Natal serão São Paulo (17,90 mil), Minas Gerais (8,33 mil), Rio de Janeiro (6,92 mil) e Rio Grande do Sul (6,02 mil), responsáveis juntos por mais da metade (55%) das oportunidades de emprego.
O salário médio de admissão deve alcançar R$ 1.319, 4,6% a mais que o da mesma época do ano anterior, em termos nominais, ou seja, sem descontar a inflação do período.
O maior salário de admissão deve ser pago pelas lojas especializadas na venda de produtos de informática e comunicação (R$ 1.618), seguidas pelo ramo de artigos farmacêuticos, perfumarias e cosméticos (R$ 1.602).
Segundo Bentes, nove em cada dez vagas criadas ficarão concentradas em cinco ocupações: vendedores (34.659), operadores de caixa (12.149), atendentes (8.276), repositores de mercadorias (6.979) e embaladores de produtos (2.954).
“O avanço significativo do varejo eletrônico deverá, no entanto, reduzir a quantidade de vagas voltadas para o consumo presencial, em especial o número de vendedores ante 2019 (-25%). Nessas ocupações, os maiores salários médios deverão ser pagos aos contratados para os cargos de operadores de caixa (R$ 2.272,78) e repositores de mercadorias (R$ 1.576,24)”, ressaltou Bentes, no relatório.
O economista prevê ainda que a taxa de efetivação dos trabalhadores temporários após o Natal seja a menor dos últimos quatro anos, em função da “ainda elevada incerteza quanto à capacidade da economia e do consumo em sustentar o ritmo de recuperação nos próximos meses”.
Por Juliano Basile, Valor — Brasília
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que o PIB brasileiro deve encolher 4,2% em 2020, segundo sua pesquisa Informe Conjuntural, divulgada nesta quarta-feira, segundo a qual a economia deve crescer 9% no terceiro trimestre, mas perderá força nos últimos três meses do ano. Já o PIB industrial deve crescer 10% no terceiro trimestre e encolher 4,1% no ano, segundo a entidade.
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, avalia que a recuperação da crise está sendo rápida, mas não se pode confundir recuperação dos efeitos da crise com retomada do crescimento econômico.
Para Andrade, o crescimento econômico acima do patamar pré-pandemia não está garantido. A redução dos estímulos adotados para a economia atravessar o período mais agudo da crise desencadeada pela pandemia do novo coronavírus terá um efeito contracionista relevante e, se ocorrer de forma apressada, tende a prejudicar a recuperação, com impacto no consumo e no emprego.
“A redução progressiva dos estímulos fiscais do período da pandemia tornará visível as barreiras estruturais que o país enfrenta”, disse ele. “Antes da crise, o Brasil mostrava falta de competitividade. Por isso, sem avanços na agenda de reformas, em especial a tributária, a economia brasileira não sairá da armadilha da renda média”, completou o presidente da CNI.
“A questão que se põe, neste momento, é como acelerar essa retomada, adotando medidas para estimular um crescimento mais vigoroso e sustentado ao longo do tempo, com investimentos e criação de empregos”, alertou.
Em termos de saldo de emprego formal, a expectativa é que o segundo semestre mostre retomada do emprego até novembro. Dezembro normalmente registra saldo líquido negativo de empregos, o que vai fazer com que, apesar da recuperação do segundo semestre, o resultado anual de empregos com carteira não se afaste muito do resultado acumulado até agosto, de cerca de 850 mil postos de trabalhos fechados, diz a CNI. Mas o retorno de parte mais expressiva da população à força de trabalho, procurando emprego, deve fazer com que a taxa de desemprego suba.
Apesar disso, a CNI estima que mais pessoas consigam se reinserir no mercado de trabalho e estima que a taxa média de desocupação fique em 13,5% em 2020, 1,6 ponto percentual acima do registrado em 2019, quando alcançou 11,9% da força de trabalho.
O Informe Conjuntural avalia ainda que o spread bancário e as taxas de juros do setor financeiro bancário acompanharam o movimento de queda da Selic. O spread bancário para pessoa jurídica caiu de 9,6 pontos percentuais, em janeiro, para 6,9 pontos percentuais, em julho. E a taxa de juros para a pessoa jurídica saiu de 14,8% ao ano para 10,7% ao ano, na mesma base de comparação.
Entre os motivos para isso, estão os programas emergenciais, estruturados por meio do compartilhamento do risco de crédito. O Copom sinalizou que há espaço residual para um novo corte da Selic ainda este ano, que dependerá da trajetória das contas públicas e da avaliação sobre o comportamento futuro da taxa de inflação. Na avaliação da CNI, a interrupção do afrouxamento monetário será mantida nas próximas duas reuniões, de outubro e dezembro, e a taxa básica de juros encerrará 2020 em 2% ao ano.
Por Edna Simão, Valor — Brasília
O diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Abijaodi, disse ao Valor que o crescimento da economia brasileira, em especial da indústria, está sendo em “V”, mas, apesar de sinais positivos, prefere não fazer estimativas com relação à expansão do PIB em 2021.
"Não tenho condições de prever. Temos indícios de retomada, mas não posso garantir”, afirmou Abijaodi. Para 2020, a CNI projeta uma retração do PIB de 4,2%, conforme Informe Conjuntural do 3º trimestre do ano, divulgado hoje.
Segundo ele, ainda é difícil mensurar o impacto do fim do benefício emergencial no consumo das famílias na economia e há dúvida sobre se haverá uma segunda onda da covid-19 no Brasil como já está sendo verificado em outros países.
Abijaodi explicou que o patamar de crescimento do PIB em 2021 está diretamente ligado à aprovação de reformas estruturantes como a tributária e administrativa. Seria uma sinalização positiva para o mercado diante do cenário de elevado endividamento do país. A CNI projeta que a dívida bruta deve atingir a marca de 93,7% do PIB. Em 2019, a dívida bruta representava 75,8% do PIB.
No que diz respeito à taxa de desemprego, ele frisou que houve uma recuperação e projeta que a taxa deve ficar 13,5% neste ano ante 11,9% de 2019. Ele não acredita que haverá um aumento das demissões com o fim das medidas adotadas como redução de jornada de trabalho e salário e suspensão de contratos, que foram subsidiadas pelo governo federal. “Com a indústria retornando, também há um crescimento da contratação de mão de obra”, frisou.