SÃO PAULO — A cotação do dólar, que já vinha em disparada por causa da crise do coronavírus, ganhou um empurrão a mais nesta sexta-feira (24) com a saída de Sergio Moro do ministério da Justiça. A avaliação de analistas e operadores de câmbio é de que a moeda americana deve continuar se valorizando no curto prazo.
O dólar comercial fechou em alta de 2,538%, para R$ 5,6653 na compra e R$ 5,6681 na venda. Na máxima da sessão, a moeda chegou a atingir R$ 5,7433. Já o dólar futuro teve valorização de 0,87%, para R$ 5,586. Nas casas de câmbio, as cotações eram bem maiores.
Segundo o site MelhorCâmbio.com, a cotação para compra do dólar em espécie estava em R$ 5,87 nas casas de câmbio de São Paulo, depois do fechamento do mercado nesta sexta-feira. Mais cedo, a moeda em espécie era vendida a mais de R$ 6. Já para o carregamento de cartão pré-pago, a cotação praticada no fim do dia era de R$ 6,38 — pela manhã, chegou a R$ 6,91.
Além do dólar, o euro também fechou o dia em alta. O avanço foi de 2,471%, para R$ 6,1145 na compra e R$ 6,1156 na venda. Mais cedo, a alta chegou a 4%. Nas casas de câmbio, a moeda em espécie estava cotada a R$ 6,28 após o fechamento do mercado, enquanto o carregamento do cartão pré-pago em euro era feito por R$ 6,82 — pela manhã, estava bem acima de R$ 7.
A pandemia de coronavírus tem provocado uma série de medidas por parte dos bancos centrais do mundo inteiro com o intuito de conter os efeitos econômicos negativos do surto. Um deles tem sido o corte das taxas de juros, visando baratear o acesso de empresas e pessoas físicas a empréstimos.
Aqui no Brasil, a taxa básica de juros, a Selic, já caiu para 3,75% ao ano, seu menor patamar histórico — mas há a perspectiva de que ela cairá ainda mais. Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, o mercado espera que os juros caiam para 3% ao ano até o final de 2020.
O próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, sinalizou nesta semana que isso deve ocorrer na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), no início de maio. Ele disse que a oferta de crédito pelos bancos começou a fluir no Brasil.
Juros menores no Brasil afastam investidores internacionais do país, que estão por aqui aproveitando as taxas maiores de juros do que em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Com essa saída de recursos, a oferta de dólares reduz e, consequentemente, a cotação do dólar tende a subir.
O cenário político também pesa sobre a cotação do dólar. Hoje, o ministro da Justiça Sergio Moro anunciou sua demissão ao não concordar com a mudança no comando da Polícia Federal solicitada pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele citou uma “interferência política” na PF e disse que é preciso que as instituições tenham independência.
“[A saída de Moro] afeta o mercado de várias maneiras. A primeira e mais óbvia é que o mercado não gosta de incerteza. Fosse em um cenário normal, um ministro pedindo demissão já seria algo importante que mexeria com o mercado”, disse Marcelo Giufrida, CEO da Garde Asset Management e ex-presidente da Anbima.
“Mas no contexto atual é pior. O presidente já é bastante criticado, houve a saída do [ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique] Mandetta, houve o tão falado ‘Plano Marshall’ com claros sinais de que a equipe econômica não participou nem validou, o momento é ruim”, completou.
Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, afirmou que a alta do dólar sobre o real é mais intensa do que a valorização contra outras moedas emergentes por causa da crise política no Brasil. “Isso já estava acontecendo após a saída de Mandetta, e piorou agora com a saída de Moro”, disse.
“É o fantasma de algum tipo de solicitação de impeachment, colocando em risco o mandato do presidente Jair Bolsonaro. O mercado acaba precificando isso e retraiu. O fluxo de saída de recursos do país agora é bem grande e não temos uma previsão de curto prazo de volta desse capital”, afirmou.
Enquanto os juros menores e a crise política afugentam investidores estrangeiros do Brasil, os brasileiros com dinheiro no exterior correm para transferir os recursos para o país, aproveitando assim o câmbio estressado para ganhar com a conversão.
“Como a crise do coronavírus causou uma perda grande nos papéis lá fora, desde março nós da Frente estamos trabalhando como uma opção para os brasileiros com recursos no exterior repatriarem esse dinheiro no Brasil, ganhando no câmbio. Houve um grande fluxo de clientes aproveitando isso”, disse Velloni.
Segundo o Banco Central, no primeiro trimestre de 2020, entraram no Brasil US$ 821 milhões em transferências de pessoas físicas — um crescimento de 18,5% sobre o mesmo período do ano passado. Só em março, foram US$ 290 milhões, uma alta de 1,4%.
No Travelex Bank, que faz parte do top 5 em transferências internacionais do Banco Central, o aumento nas transações de repatriação de dinheiro foi de 22,3% no primeiro trimestre deste ano. Só em março, o avanço na instituição foi de 30,8%.
“A mudança de patamar do real frente as outras moedas, principalmente o dólar, favoreceu muito a entrada de recursos no país. O real se desvalorizou perto de 14% ante o dólar no primeiro trimestre de 2020, comparado ao primeiro trimestre de 2019. Com isso, quem tinha dinheiro lá fora para investimentos, por exemplo, conseguiu uma oportunidade de converter esses valores em reais com esse ganho na conversão”, disse Jorge Arbex superintendente executivo do grupo Travelex Confidence.
“Além disso muitos brasileiros que moram fora do país enviam dinheiro tanto para parentes aqui no Brasil quanto para quitar compromissos que ainda mantêm no país. Os dólares que enviaram valem hoje 14% a mais reais que um ano atrás”, completou.
O mesmo foi observado pela TransferWise, que viu o volume de transferências para o Brasil aumentar em 50% em março, na comparação com igual período de 2019. Foi um volume recorde desde que a empresa começou a operar no país, em 2016. A companhia não abre, no entanto, a quantidade exata de dinheiro repatriado.
“A cotação favorável sem dúvida beneficiou brasileiros expatriados e estrangeiros que precisam mandar dinheiro para o Brasil, o que se refletiu nesse novo recorde de volumes transacionados pela nossa plataforma”, disse em nota Heloisa Sirotá, general manager da TransferWise no Brasil. No mundo todo, a TransferWise movimenta US$ 5 bilhões por mês.
SÃO PAULO – Com preocupações crescentes em relação aos impactos recessivos do coronavírus sobre a economia brasileira, o mercado financeiro vê um menor espaço para a alta da Selic nos próximos dois anos. No relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na manhã desta segunda-feira (27), as projeções para a taxa básica de juros foram reduzidas de 4,50% para 4,25% ao ano, ao fim de 2021, e de 6,00% para 5,88% ao ano, em dezembro de 2022.
Para este ano, contudo, a projeção para a Selic foi mantida em 3,00% ao ano, o que implica um corte de 0,75 ponto percentual em relação ao patamar atual.
Em meio a medidas de isolamento social visando minimizar a disseminação do coronavírus, as expectativas para inflação e crescimento da economia do país também foram novamente reduzidas.
A mediana das projeções para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu pela 11ª vez consecutiva, englobando uma visão ainda mais pessimista neste ano. Agora, os economistas veem uma contração da economia brasileira de 3,34% em 2020, ante expectativa anterior de retração de 2,96%.
Em 2021, o mercado espera que a atividade cresça 3,00%, também abaixo da expectativa anterior, que previa uma expansão de 3,10%.
Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a projeção de alta ainda foi cortada pela sétima vez consecutiva, de 2,23% para 2,20%, em 2020, e mantida em 3,40%, em 2021.
No que tange às previsões para o mercado cambial, o relatório Focus revelou que a estimativa para o dólar se manteve em R$ 4,80 neste ano, e a expectativa para 2021 teve alta pela sexta vez consecutiva, desta vez de R$ 4,50 para R$ 4,55.
Entre os economistas que mais acertam as previsões, reunidos na categoria “Top 5” do relatório Focus, as estimativas para a Selic, inflação e câmbio foram mantidas.
Segundo o relatório do BC, o grupo “Top 5 médio prazo” projeta a Selic encerrando 2020 em 2,50% e 2021, em 3,88% ao ano. Já a inflação medida pelo IPCA deve corresponder a 1,56%, neste ano, e 3,10%, no próximo.
A previsão para o dólar, por sua vez, é de que a moeda americana fique no patamar de R$ 5,08, em 2020, e em R$ 5,20, em dezembro de 2021.
O Ministério da Economia publicou no Diário Oficial da União (DOU) portaria que regulamenta o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que será pago a trabalhadores que tiverem jornada e salários reduzidos ou contrato suspenso nos termos da Medida Provisória 936/2020.
Custeado pela União, o benefício será pago ao empregado independentemente do cumprimento de qualquer período aquisitivo, tempo de vínculo empregatício e número de salários recebidos. As regras valem para os contratos de trabalho iniciados até 1º de abril de 2020 e informados no eSocial até 2 de abril de 2020. Segundo o governo, o investimento do programa pode chegar a R$ 51,2 bilhões.
A projeção do Ministério da Economia é de que o programa irá preservar até 8,5 milhões de empregos, beneficiando cerca de 24,5 milhões trabalhadores com carteira assinada.
De acordo com a portaria, o benefício do governo não será pago para empregados não sujeitos a controle de jornada e para aqueles que recebem remuneração variável “caso verificada a manutenção do mesmo nível de exigência de produtividade ou de efetivo desempenho do trabalho existente durante a prestação de serviço em período anterior à redução proporcional de jornada de trabalho e de salário”.
A portaria confirma que o valor do benefício será calculado tendo como referência o valor base do seguro-desemprego a que o empregado teria direito se fosse demitido e lista os parâmetros a serem seguidos por faixa salarial, além dos respectivos porcentuais. Além disso, o texto formaliza que o empregado com contrato de trabalho intermitente terá direito a um auxílio emergencial correspondente a três parcelas mensais de R$ 600.
“Para a habilitação do empregado ao recebimento do BEm, o empregador informará ao Ministério da Economia a realização de acordo de redução de jornada de trabalho e de salário ou da suspensão temporária de contrato de trabalho com o empregado, no prazo de dez dias, contados a partir da data da celebração do acordo”, estabelece o ato.
“A informação do acordo para recebimento do BEm deverá ser realizada pelo empregador exclusivamente por meio eletrônico, no endereço https://servicos.mte.gov.br/bem”, acrescenta.
Pessoa jurídica - Desconto de duplicata
Classificadas por ordem crescente de taxa
Período: 30/03/2020 a 03/04/2020
Modalidade: Pessoa jurídica - Desconto de duplicatas
Tipo de encargo: Pré-fixado
Taxas de juros | |||
Posição | Instituição | % a.m. | % a.a. |
1 | BCO J.P. MORGAN S.A. | 0,36 | 4,40 |
2 | ICBC DO BRASIL BM S.A. | 0,39 | 4,75 |
3 | BCO GM S.A. | 0,58 | 7,22 |
4 | BCO VOTORANTIM S.A. | 0,58 | 7,23 |
5 | HSBC BANCO DE INVESTIMENTO | 0,58 | 7,25 |
6 | BCO CITIBANK S.A. | 0,62 | 7,68 |
7 | BCO DE LAGE LANDEN BRASIL S.A. | 0,62 | 7,70 |
8 | BCO MERCEDES-BENZ S.A. | 0,66 | 8,21 |
9 | BANCO FIDIS | 0,68 | 8,41 |
10 | BCO SAFRA S.A. | 1,00 | 12,64 |
11 | BCO BRADESCO S.A. | 1,05 | 13,36 |
12 | ITAÚ UNIBANCO S.A. | 1,06 | 13,48 |
13 | BCO SANTANDER (BRASIL) S.A. | 1,18 | 15,16 |
14 | BCO BNP PARIBAS BRASIL S A | 1,18 | 15,17 |
15 | BCO INDUSTRIAL DO BRASIL S.A. | 1,22 | 15,71 |
16 | BCO DAYCOVAL S.A | 1,24 | 15,91 |
17 | BCO ABC BRASIL S.A. | 1,25 | 16,08 |
18 | BCO DO BRASIL S.A. | 1,38 | 17,91 |
19 | BANCO BTG PACTUAL S.A. | 1,50 | 19,55 |
20 | BCO DO ESTADO DO RS S.A. | 1,55 | 20,27 |
21 | SANTANA S.A. - CFI | 1,73 | 22,83 |
22 | BCO FIBRA S.A. | 1,80 | 23,88 |
23 | OMNI BANCO S.A. | 1,80 | 23,89 |
24 | BCO DO NORDESTE DO BRASIL S.A. | 1,86 | 24,72 |
25 | BANCO MONEO S.A. | 1,88 | 25,08 |
26 | BCO RENDIMENTO S.A. | 1,91 | 25,54 |
27 | BCO SOFISA S.A. | 1,99 | 26,63 |
28 | BCO MERCANTIL DO BRASIL S.A. | 2,02 | 27,11 |
29 | BCO BANESTES S.A. | 2,06 | 27,65 |
30 | BANCO ORIGINAL | 2,07 | 27,83 |
31 | CAIXA ECONOMICA FEDERAL | 2,11 | 28,51 |
32 | BANCO RANDON S.A. | 2,12 | 28,64 |
33 | BCO MAXINVEST S.A. | 2,31 | 31,45 |
34 | BCO GUANABARA S.A. | 2,32 | 31,67 |
35 | SANTINVEST S.A. - CFI | 2,32 | 31,73 |
36 | BCO TRIANGULO S.A. | 2,35 | 32,07 |
37 | BCO DA AMAZONIA S.A. | 2,78 | 39,01 |
38 | HS FINANCEIRA | 2,94 | 41,52 |
39 | BCO CREFISA S.A. | 3,05 | 43,42 |
40 | BCO RIBEIRAO PRETO S.A. | 3,26 | 46,98 |
41 | CARUANA SCFI | 3,42 | 49,78 |
42 | BCO CAPITAL S.A. | 3,51 | 51,35 |
43 | BIORC FINANCEIRA - CFI S.A. | 3,74 | 55,30 |
44 | BRB - BCO DE BRASILIA S.A. | 4,18 | 63,51 |
45 | BCO DO EST. DE SE S.A. | 4,48 | 69,12 |
46 | VIA CERTA FINANCIADORA S.A. - CFI | 7,23 | 131,15 |
47 | BANCO DIGIO | 8,48 | 165,58 |
48 | FINAMAX S.A. CFI | 8,75 | 173,56 |
Fonte: Banco Central do Brasil
Para fazer caixa e garantir a liquidez durante a pandemia do novo coronavírus, as companhias brasileiras com ações negociadas em Bolsa estão reduzindo ou adiando o pagamento de dividendos bilionários para seus investidores.
Uma projeção feita pela consultoria Economática aponta que a previsão de pagamento de dividendos este ano chegava a R$ 119 bilhões, um valor recorde, com crescimento de 13% em relação a 2019, sem levar em conta a inflação. Mas a crise provocada pela covid-19 derrubou definitivamente esse movimento.
O número de R$ 119 bilhões foi calculado com base no lucro das companhias abertas que, em 2019, foi de R$ 232,4 bilhões – os dividendos são pagos com base no resultado do ano anterior. “A projeção apontava para um número recorde. Mas, com certeza, vai ter uma baita de uma queda”, afirma o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero. “Ainda é preciso, no entanto, esperar pelas assembleias com os investidores para definir para quanto o volume vai cair.”
O que já se sabe é que os pagamentos no segmento bancário, que historicamente lidera em distribuição de dividendos, com valores acima de 60% do lucro, devem cair drasticamente. Os bancos lucraram R$ 91 bilhões em 2019 e o mercado esperava cerca de R$ 74 bilhões em proventos. Mas, após resolução do Banco Central, que limitou a distribuição de resultados das instituições em 25% do lucro, com o objetivo de ampliar a liquidez do setor, essa conta deve ficar perto de R$ 18 bilhões.
Além do segmento bancário, pelo menos 6 das 25 principais pagadoras de dividendos do País também já afirmaram que devem reduzir os desembolsos ao mínimo ou, na melhor das hipóteses, postergar os pagamentos para o fim do ano.
É o que acontecerá com a Petrobras (PETR3;PETR4). Nas semana passada, o conselho de administração da companhia aprovou a alteração da data de pagamento da remuneração aos acionistas. O desembolso seria realizado em 20 de maio e ocorrerá em 15 de dezembro. O montante ainda a ser pago é de R$ 1,7 bilhão para as ações ordinárias (R$ 0,23 por ação) e R$ 2,5 bilhões para as ações preferenciais (R$ 0,00045 por ação). Na última segunda-feira, acionistas da MRV (MRVE3) aprovaram o pagamento de dividendos mínimos obrigatórios de R$ 163 milhões, representando R$ 0,34 por ação. A data-base, no entanto, não foi ainda definida.
Mas a lista ainda tem empresas como o braço brasileiro da companhia de energia francesa Engie (EGIE3), que já declarou que vai rever o seu plano de pagamento, além da distribuidora de energia Energisa (ENGI11) e da geradora Equatorial (EQTL3), que disseram que iriam reavaliar o plano de dividendos em função da queda brusca de receita.
“Podemos entender que tempos difíceis vão surgir e a tendência natural é que empresas retenham dividendos para preservar liquidez”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da Ativa Investimentos. “A Petrobras já anunciou (mudança de data), a Vale (VALE3) deve anunciar mudança também e outras mais. As melhores pagadoras de dividendos estão no setor elétrico, que serão fortemente afetadas pela crise. A decisão de cada uma será de reter para preservar o caixa.”
Apesar do movimento de redução de dividendos, a analista de crédito sênior do banco Indosuez, Shana Agostini, não vê riscos de cancelamento de dividendos. “A gente tem simulado cenários e as empresas, apesar da queda de receita, conseguirão pagar. No fim da crise, elas ainda param de pé.”
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou na segunda-feira, 20, um novo corte na taxa básica de juros, a Selic, e disse que a oferta de crédito pelos bancos começou a fluir no Brasil.
Mas, segundo ele, as taxas dos empréstimos ficarão mais caras para as empresas por causa do medo da extensão do isolamento social e do seu impacto na inadimplência.
Em live do Estadão Live Talks sobre as medidas para o enfrentamento da crise da covid-19, Campos Neto mostrou que está aliviado com a melhora do crédito e avisou que o BC consegue enxergar agora com mais clareza o cenário que antes estava muito nebuloso.
Ele disse que o BC está monitorando os volumes e preços do crédito e avisou que, se necessário, tomará novas medidas para melhorar a oferta – se ainda “houver medo dos bancos para emprestar”.
O presidente do BC evitou, no entanto, fazer um prognóstico de quando a situação vai se normalizar para o crédito das empresas e pessoas físicas, mas destacou que os bancos públicos têm maior capacidade de agir mais diretamente, como faz a Caixa agora na crise. “Nós entendemos que o Brasil fez mais cedo e em mais quantidade (liberação de liquidez) e isso deve começar a fluir. Isso não significa que o preço do crédito será como antes. Haverá um prêmio de risco”, disse.
Segundo ele, a dificuldade de o crédito chegar na ponta não é um fenômeno só brasileiro, mas também relatado por vários colegas de BCs de outros países. Campos Neto previu que a possibilidade de o BC entrar no mercado comprando crédito diretamente das empresas, como previsto em proposta que tramita na Câmara, também dará um “poder de fogo incrível” para que esse movimento aconteça. O BC poderá comprar papéis de empresas e, dessa forma, direcionar recursos para as empresas que mais precisam, afirmou.
O presidente do BC rechaçou a possibilidade de o governo brasileiro adotar medidas de controle de capitais (de regulação do fluxo da entrada e saída de recursos) para segurar a alta do dólar.
Nas últimas semanas, a moeda derreteu não só no Brasil, mas também em muitos países emergentes. Vários governos começaram a falar em controle de capitais para evitar mais corrosão de moeda, dado que esses países querem continuar cortando os juros. No Brasil, os investidores estavam preocupados com esse risco e a fala de Campos Neto durante o Estadão Live Talks acabou tranquilizando o mercado financeiro. O dólar fechou na segunda, véspera de feriado, em R$ 5,307 em alta de 1,35%.
“Não passa pela cabeça do BC estabelecer política de controle de capitais”, afirmou ele. Para Campos Neto, a alta do dólar no Brasil piora fundamentos econômicos do País, mas o movimento está em linha com o de países emergentes nesse momento.
Depois da fala de Campos Neto, a aposta entre analistas é a de que o BC vai reduzir os juros básicos, atualmente em 3,75% ao ano, em 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de maio.
Na live, o presidente do BC disse que está “muito distante” no Brasil a situação em que a política de juros não faz mais efeito na economia. Essa era uma das preocupações dos investidores, que cobravam nas últimas semanas um corte da Selic diante do cenário de recessão da economia.
“Ele está mais aliviado com o fato de as medidas de liquidez e crédito começarem a surtir efeito. Isso dá tranquilidade para pensar a política monetária mais tradicional, ainda mais que a volatilidade dos mercados está mais baixa”, disse Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset, que acompanhou a live, que teve a participação de colunistas do jornal O Estado de S. Paulo, como a economista Zeina Latif. Para Akira, o destaque foi que a taxa Selic (a redução) voltou a ter prioridade na ação do BC.
Fonte: InfoMoney