O Brasil saiu de um superávit primário de R$ 126,0 bilhões (1,25% do PIB) em 2022 para um déficit do setor público consolidado de R$ 249,1 bilhões (2,29% do PIB) no ano passado, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (7) pelo Banco Central do Brasil.
Em dezembro de 2023, a diferença entre as receitas e as despesas do governo foi negativa em R$ 129,6 bilhões, maior que o déficit de R$ 11,8 bilhões contabilizado em dezembro de 2022. No mês, exerceu grande impacto do pagamento de precatórios, no valor de R$ 92,4 bilhões.
No último mês do ano passado, o governo central ficou deficitário em R$ 127,6 bilhões e os governos regionais (estados e municípios) também ficaram no negativo, em R$ 2,9 bilhões. Enquanto isso, as empresas estatais tiveram superávit de R$ 942 milhões.
O déficit primário do setor público consolidado em 2023, de 2,29% do PIB, foi o primeiro resultado deficitário desde 2020, quando o primeiro ano da pandemia registrou déficit de 9,24% do PIB.
Em 2023, a Dívida Líquida do setor Público atingiu 60,8% do PIB (para R$ 6,6 trilhões), com elevação anual de 4,7 ponto percentual do PIB
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Por Daniel Cristóvão, Valor Investe — São Paulo
O governo mudou a tabela do Imposto de Renda 2024 e quem recebe até dois salários mínimo - R$ 2.824 - não vai precisar pagar IR. A MP (Medida Provisória) foi publicada nesta quarta-feira (7) no Diário Oficial da União e a nova tabela do imposto de Renda passa a valer imediatamente, com efeito na folha de pagamento de fevereiro.
Esta é a segunda mudança na faixa de isenção do Imposto de Renda no governo atual do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Antes a tabela do Imposto de Renda não sofria alterações desde 2015. Em maio de 2023, o governo havia feito o mesmo: mudado a faixa de isenção para quem ganha até dois salários mínimos.
A correção na tabela do IR 2024 publicada hoje na MP, no entanto, só muda na faixa de isenção - a exemplo do que ocorreu ano passado e diferentemente do que ocorria até 2015, quando o ajuste na faixa inferior também era acompanhado por correções nas faixas seguintes.
Ou seja, o restante da tabela não sofreu correção. Num exemplo, a alíquota de 27,5% incidia a partir dos valores superiores a R$ 4.664,68 por mês, e assim vai continuar. Outra diferença é que, desta vez, o desconto anual por dependente, assim como o desconto com despesas de educação e o teto do desconto para quem faz declaração simplificada foram mantidos em R$ 2.275,08, em R$ 3.651,50 e em R$ 16.754,34, respectivamente.
Nova tabela do Importo de Renda 2024
Rendimento mensal | Alíquota | Dedução |
Até R$ 2.259,20 | zero | zero |
De R$ 2.259,21 até R$ 2.824,00 com desconto de R$ 564,80 | zero | zero |
De R$ 2.259,21 até R$ 2.828,65 sem desconto de R$ 564,80* | 7,5% | R$ 169,44 |
De R$ 2.828,66 até R$ 3.751,05 | 15,0% | R$ 381,44 |
De R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68 | 22,5% | R$ 662,77 |
Acima de R$ 4.664,68 | 27,5% | R$ 896,00 |
*quem ganha até dois salários mínimos pode optar não fazer a declaração simplificada |
Por Nathália Larghi, Valor Investe — São Paulo
O volume de vendas do varejo restrito caíram 1,3% em dezembro ante novembro, segundo informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o varejo encerrou 2023 com alta de 1,7% nas vendas.
A projeção mediana de 25 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data apontava para uma estabilidade na comparação mensal. O intervalo das projeções ia de uma queda de 0,6% a um avanço de 0,8%. Na comparação com dezembro de 2022, a expectativa era que o volume de vendas avançasse 2,8%, segundo mediana de 25 instituições. As projeções iam de uma alta de 1,9% a um avanço de 5,5%.
No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças; material de construção; e atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo, o volume de vendas caiu 1,1% em dezembro, segundo o IBGE.
Em novembro, o volume de vendas do varejo veio em linha com o esperado e registrou um leve avanço de 0,1%. Em outubro, porém, o número surpreendeu negativamente ao cair 0,3% enquanto o mercado esperava uma alta do segmento.
Segundo o IBGE, de novembro para dezembro, seis das oito atividades pesquisadas tiveram queda. "Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação" recuou 13,1%; "Móveis e eletrodomésticos" caiu 7,0%; "Outros artigos de uso pessoal e doméstico" teve queda de 3,8%); "Tecidos, vestuário e calçados" recuou 3,5%; "Livros, jornais, revistas e papelaria" caiu 2,3%)e "Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria" teve uma queda de 0,5%.
Assim, apenas dois dos oito grupamentos pesquisados tiveram alta: "Combustíveis e lubrificantes", com avanço de 1,5% e "Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo", que subiu 0,8%.
Já no varejo ampliado, "Veículos e motos, partes e peças "caiu 4,5% e "Material de construção" variou 0,4%.
O que caiu e o que subiu em um ano?
Frente a dezembro de 2022 quatro atividades do varejo tiveram alta. "Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo" subiu (5,6%; "Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria" avançou 4,8%; "Tecidos, vestuário e calçados" subiu 0,4% e "Combustíveis e lubrificantes" teve alta de 0,2%.
Por outro lado, "Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação" recuou 0,9%; "Móveis e eletrodomésticos" caiu 3,3%; "Livros, jornais, revistas e papelaria" teve recuo de 7,6% e !Outros artigos de uso pessoal e doméstico" caiu 12,4%.
No varejo ampliado, Veículos e motos, partes e peças teve alta de 7,0%, Material de construção caiu 2,8% e Atacado especializado em produtos alimentícios, bebidas e fumo cresceu 2,7%.
Por Carla Matsue, Valor Investe — São Paulo
No primeiro mês de 2024, o saque líquido em caderneta de poupança ficou em R$ 20,148 bilhões, conforme divulgado hoje (7) Banco Central (BC). Apesar de deixar o saldo da caderneta negativo no mês, o rombo foi menor que um ano atrás, quando os saques somaram R$ 33,63 bilhões.
Considerando períodos móveis de 12 meses, os resgates da poupança estão diminuindo. Nos últimos 12 meses encerrados em janeiro de 2024 eles totalizaram R$ 74 bilhões. Em todo o ano de 2023, os resgates foram de R$ 88 bilhões. Já nos 12 meses encerrados em janeiro de 2023, os resgates foram de R$ 117 bilhões.
Em janeiro, a captação líquida - diferença entre entradas e saídas - foi negativa em R$ 20,148 bilhões. Os brasileiros depositaram R$ 332,266 bilhões e sacaram R$ 352,415 bilhões da poupança. No mês passado, as novas captações superaram os saques em R$ 13,771 bilhões.
Sendo assim, o saldo total da poupança somou R$ 968,071 bilhões, ante os R$ 983,033 bilhões registrados no mês anterior.
Em 2023, o saque líquido em caderneta de poupança ficou em R$ 87,819 bilhões. Mesmo com o resultado anual negativo para a poupança, 2023 teve menos saída de capital que 2022, quando o valor ultrapassou os R$ 100 bilhões.
Por Augusto Decker, Valor — São Paulo
A ação do Bradesco iniciou a sessão de hoje em forte queda, após o balanço do banco vir abaixo das expectativas do mercado e com indicadores inferiores ao guidance. Por volta de 10h35, a ação preferencial recuava 7,17% e a ordinária perdia 6,61%. No mesmo horário, o Ibovespa operava em baixa de 0,33%, aos 129.986 pontos.
O lucro recorrente do banco no quarto trimestre de 2023 totalizou R$ 2,878 bilhões, enquanto a média das projeções da analistas consultados pelo Valor era de R$ 4,657 bilhões. Os resultados do ano passado ficaram fora do 'guidance' na maior parte dos indicadores, mesmo depois de revisões após os dados do segundo trimestre.
Além disso, as expectativas para este ano decepcionaram. “O destaque são as perspectivas mais cautelosas e conservadoras para 2024 (guidance). A expectativa (do mercado) era de um lucro entre R$ 20 bilhões e R$ 22 bilhões para 2024 e o guidance está sugerindo algo mais próximo de R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões", afirma um gestor local.
Os pares do banco também apresentavam baixa, embora mais amena: Itaú PN caía 0,78%, BB ON recuava 0,03% e Santander units perdia 0,47%.
Ontem, a ação do Bradesco subiu 6,21%, uma das maiores altas do Ibovespa no pregão, após proposta para tirar a Cielo da bolsa e com expectativa de que a nova gestão pudesse realizar mudanças estruturais dentro do banco.
O Banco Central (BC) informou, há pouco, que 238 clientes da Phi Pagamentos tiveram dados ligados às suas chaves do Pix expostos.
Segundo o BC, “não foram expostos quaisquer dados sensíveis, tais como senhas, informações de movimentações ou saldos financeiros em contas transacionais, ou quaisquer outras informações sob sigilo bancário”.
“As informações obtidas são de natureza cadastral, que não permitem movimentação de recursos, nem acesso às contas ou a outras informações financeiras”, disse em comunicado.
De acordo com o BC, o vazamento ocorreu “em razão de falhas pontuais em sistemas dessa instituição de pagamento”.
“O BC ressalta que os mecanismos de segurança e de monitoramento do Pix mitigaram sobremaneira a extensão dos dados cadastrais expostos, limitando a exposição a 238 chaves Pix ou menos de 0,00004% das mais de 630 milhões de chaves cadastradas no Diretório de Identificadores de Contas Transacionais (DICT)”, disse. A autoridade monetária não detalhou quando ocorreu o vazamento das informações.
Ainda segundo o BC, “as pessoas que tiveram seus dados cadastrais obtidos a partir do incidente serão notificadas exclusivamente por meio do aplicativo ou pelo internet banking de sua instituição de relacionamento”.
“Nem o BC nem as instituições participantes usarão quaisquer outros meios de comunicação aos usuários afetados, tais como aplicativos de mensagem, chamadas telefônicas, SMS ou e-mail”.
A autoridade monetária ainda afirmou que “foram adotadas as ações necessárias para a apuração detalhada do caso e serão aplicadas as medidas sancionadoras previstas na regulação vigente”.
“Mesmo não sendo exigido pela legislação vigente, por conta do baixo impacto potencial para os usuários, o BC decidiu comunicar o evento à sociedade, à vista do compromisso com a transparência que rege sua atuação”, disse.
Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.
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O estresse observado nos mercados globais de renda fixa, diante da disparada dos rendimentos dos Treasuries, tem se refletido nos ativos domésticos e já levanta a possibilidade de o ciclo de flexibilização da política monetária não ser tão intenso quanto o precificado anteriormente. A alta relevante dos juros futuros retirou do preço uma Selic abaixo de 9% e a chance de aceleração no ritmo de cortes no juro básico também ficou menor.
Parte da preocupação dos agentes de mercado deriva da redução do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos e de possíveis reflexos no comportamento do câmbio e, como consequência, da dinâmica inflacionária. Com a disparada das taxas dos Treasuries e consequente diminuição da diferença entre os juros brasileiros e americanos, o mercado passou por forte correção nas últimas duas semanas. Depois de ter calculado uma Selic em torno de 8,75% em 2024, a curva de juros passou a embutir no preço uma taxa entre 9,25% e 9,5%.
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Em meio às discussões sobre mudanças que ajudem a reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), que representa diferentes emissores, bandeiras e credenciadoras, apresentou um conjunto de propostas ao Banco Central (BC).
Entre as medidas, estão o fim, parcial ou total, do rotativo, com migração automática da dívida para um parcelamento, e a criação de um fórum de indústria para discussão de possíveis “aperfeiçoamentos” no parcelado sem juros. As propostas, construídas a partir de estudo de uma consultoria contratada, foram apresentadas em reunião com o diretor de regulação do BC, Otavio Damaso.
“Levamos ao BC a constatação de que não há bala de prata para resolver o problema, por isso, é necessário discutir vários assuntos, alguns espinhosos para um ou outro participante. Outro ponto é que somos contrários a qualquer tipo de tabelamento” disse o vice-presidente executivo da Abecs, Ricardo Vieira, ao Valor. A cesta de propostas foi construída a partir dessas premissas.
Neste mês, o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, esquentou as discussões após dizer que está em discussão o fim do rotativo, assim como mudanças na dinâmica do parcelado sem juros. As declarações geraram embate entre diferentes participantes da indústria.
De um lado, grandes bancos indicaram aceitar a ideia de acabar com o rotativo desde que a medida venha acompanhada de uma redução do número de prestações sem juros. Já varejo, credenciadoras e até emissores de menor porte se manifestaram de forma contrária a medidas que afetem o parcelado sem juros.
No estudo, a Abecs defende que a substituição do rotativo por um parcelamento automático poderia ser total ou parcial. Ou seja, em um dos cenários, no primeiro dia de atraso da fatura o cliente já entraria no parcelamento. Em outro, isso ocorreria após alguns dias, como cinco, por exemplo. Hoje, a modalidade é limitada a 30 dias. Vieira afirma que a decisão precisa considerar questões ligadas a regulação, transparência e tributação e, por isso, é necessário aprofundamento.
Em relação ao parcelamento, cada banco definiria as taxas praticadas, mas deveria haver um processo “evolutivo” de redução dos juros, acompanhado pelo BC. “O objetivo é tentar manter o equilíbrio de receitas perto do atual”, diz o executivo.
Há pouco embate no setor sobre o fim do rotativo, mas a história é muito diferente quando o assunto é o parcelado sem juros. Nesse cenário, a Abecs se propõe a chamar um fórum, com diferentes participantes da indústria de cartões e do varejo, para discutir a possibilidade de aperfeiçoamentos na modalidade. O processo seria acompanhado pelo BC.
Vieira frisa que a associação não está propondo que haja mudanças, mas uma discussão técnica para evitar decisões unilaterais que tragam problemas ao comércio e portadores. “Em última instância, quem define o limite para o parcelamento é o banco. Se cada instituição começar a ajustar isso por conta própria, pode causar confusão”, afirma.
Ele diz ser natural que não haja consenso sobre o tema, já que os modelos de negócios são concorrentes, mas acredita que é possível levar adiante uma discussão técnica. “Não seria um fórum permanente, mas amplo.” A Abecs tem entre seus associados os maiores bancos, bandeiras e credenciadoras do país. Juntos, representam mais de 90% de cada um dos segmentos de atuação.
Outras propostas foram ainda levadas ao BC. Uma diz respeito ao aumento da competição entre emissores via implementação da portabilidade para a dívida do cartão de crédito. A ideia é que o “open finance” ajude nesse processo, mas isso demanda ajustes no escopo do ecossistema, diz Vieira.
Há ainda a ideia de abrir uma discussão sobre a resolução 3.919, de 2010, que tratou de normas sobre cobrança de tarifas pelas instituições e gratuidade para serviços essenciais. “Ninguém quer criar tarifa, a proposta não é essa. Mas o mercado mudou muito desde que a regra foi criada”, diz Vieira. Uma possibilidade é que a norma seja mais principiológica.
Na semana passada, outras associações que representam empresas de pagamentos — a Associação Brasileira de Internet (Abranet) e a Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos (Abipag) — também apresentaram ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, proposta de regulamentação da portabilidade, segundo apurou o Valor. No encontro, representantes expuseram a visão de que limitar o parcelado sem juros teria efeito sobre varejo e consumo e de que a tarifa de intercâmbio é suficiente para remunerar o risco do emissor nessas operações.
Diferentes participantes da indústria afirmam que as declarações de Campos sobre o parcelado sem juros conturbaram as discussões. Acreditam, ainda, que a solução de curto prazo mais viável passa pelo fim do rotativo, desde que isso não inclua alterações nos parcelamentos sem juros.
Ontem, em evento do Santander, Campos voltou a falar sobre o tema. Afirmou que o Brasil tem um sistema onde o consumo é baseado em cartão, que responde por quase 40% do total. “Talvez esse instrumento esteja tendo função além do que deveria”, afirmou. Ele acrescentou que, da carteira total de cartão de crédito, mais de dois terços são à vista e que, “como não existe nada sem juros, essa conta está sendo paga de outra forma”.
O presidente do Itaú Unibanco, Milton Maluhy, disse que “nunca houve pretensão de acabar com parcelado sem juros”. “Temos de enfrentar os juros do rotativo, mas o redesenho passa por uma reformulação do cartão como um todo”, comentou o presidente o Santander Brasil, Mario Leão. (Colaborou Victor Rezende)
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A aprovação definitiva do novo arcabouço de regras fiscais pela Câmara dos Deputados na noite desta terça-feira (22) afastou o risco de o governo ser obrigado a apresentar sua proposta de Orçamento com base na regra de teto de gastos, restringindo as despesas. Mas, segundo analistas, isso não retira o desafio de buscar receitas extras para o cumprimento da meta de superávit primário.
Para o economista Tiago Sbardelotto, da XP Investimentos, a versão aprovada pelos deputados, que retirou algumas alterações feitas no Senado, ficou melhor do que a proposta inicial do governo do ponto de vista das contas públicas. No entanto, ele disse continuar menos otimista quanto à capacidade da regra em realizar o ajuste necessário para estabilizar a dívida pública.
Ele afirmou, em relatório, que o desenho final do arcabouço deve permitir ao governo aumentar as despesas acima da inflação em 2,5% em 2024 e 2025, o que gera pressão por aumentos de receita para atingir as metas de resultado primário estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
“Vemos como improvável que a consolidação fiscal ocorra por esse caminho, dado o baixo potencial de crescimento do país, a resistência política a aumentos de impostos e a incerteza inerente às medidas de arrecadação. Assim, acreditamos que o governo também precisará aprimorar a agenda de controle de gastos para concluir o ajuste fiscal”, previu.
Para o JPMorgan, o novo marco fiscal deixou o Congresso com as mesmas linhas gerais apresentadas pelo governo, isso após extensas negociações entre líderes partidários e a equipe econômica. “Com poucas razões para antecipar vetos presidenciais, parece que a poeira praticamente assentou sobre este assunto. Ainda assim, isto não quer dizer que o ruído fiscal irá diminuir no curto prazo”, alertou o banco de investimentos.
Entre as questões a serem negociadas no segundo semestre pela equipe econômica comandada por Fernando Haddad e o presidente da Câmara, Arthur Lira, o banco citou especialmente as propostas de tributar os veículos de investimento offshore e dos onshore fechados.
“Isso reflete tanto as adversidades que enfrentará quanto o reconhecimento de que não há muitos caminhos a serem percorridos para se aproximar das metas primárias”, comentou o JPMorgan, que citou ainda que outras medidas regulatórias ou sobre o imposto de renda vão depender do clima econômico e político dos próximos meses para se mostrarem viáveis ou não.
Os estrategistas do BTG Pactual Jerson Zanlonrezi e Arthur Mota, por sua vez, comentaram no Morning Call do banco que a aprovação também trouxe como ponto positivo a liberação da agenda política para discutir outros temas importantes, como a reforma tributária.
Eles também destacaram o fato de a proposta orçamentaria ser apresentada na semana que vem com as premissas do novo marco fiscal, com o gasto controlado em função da receita. Mas alertaram que o governo ainda vai ter de se esforçar para cumprir a meta de zerar o resultado primário em 2024.
“Se não entregar o déficit proposto, a partir de março do ano que vem terá de começar a fazer contingenciamento. Por isso, vão correr para aprovar as medidas que geram receita para fechar essa conta”, disse Mota, citando as taxações de fundos como parte dessa estratégia.
Marcio Bandeira, da Guide investimentos, também opinou que será necessário reduzir despesas para atingir a meta, uma vez que a obtenção das receitas necessárias ainda é incerta.
Para Gino Olivares, economista-chefe da Azimuth Brazil Wealth Management, o projeto aprovado pelo Congresso resultou melhor e mais equilibrado que a proposta original do Executivo, mas permanece o desafio de colocar o novo arcabouço para funcionar e produzir resultados satisfatórios.
“Para viabilizar o arcabouço, o governo precisa de legislação que lhe permita aumentar suas receitas, e nesse campo está enfrentando muitas dificuldades. Está claro, por exemplo, que não há clima no Congresso, pelo menos por enquanto, para aprovar a tributação de investimentos de brasileiros no exterior”, comentou em relatório.
Olivares disse ainda que a aprovação do novo arcabouço representa uma vitória para o governo, mas fica evidente que o país está longe de garantir a sustentabilidade das contas públicas.
Na avaliação da Levante, na comparação com a regra do teto de gastos, o arcabouço representa uma piora estrutural na maneira de o governo gerir o dinheiro público, já que, em vez de limitar os gastos, na prática os estimula. “E, pior do que isso, estimula o governo a arrecadar mais para poder gastar mais. A votação do arcabouço mostrou que tanto o Executivo quanto o Legislativo seguem descompromissados com a redução dos gastos públicos e com o equilíbrio financeiro do Estado.”
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A propensão dos brasileiros ao consumo voltou a aumentar em agosto, impulsionada pelo freio na inflação no País, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) cresceu 1,4% em relação a julho, descontados os efeitos sazonais, para 101,1 pontos, o maior patamar desde abril de 2015, quando havia alcançado 102,9 pontos.
O indicador retornou à zona de otimismo, acima dos 100 pontos, pela primeira vez em mais de oito anos, frisou a CNC.
Em relação a agosto de 2022, o ICF subiu 23,1% em agosto de 2023.
Segundo a entidade, a pesquisa sinaliza uma retomada plena do otimismo das famílias em relação às suas perspectivas de consumo, com todos os subitens mostrando tendência de recuperação. “Os resultados apontam um crescimento consistente da intenção de consumo desde janeiro de 2022, quando o índice voltou aos níveis anteriores à pandemia de covid-19, de 99,3 pontos”, observou a CNC, em nota.
Na passagem de julho para agosto, seis dos sete componentes do ICF registraram avanços: emprego atual (alta de 1,1%, para 125,0 pontos), renda atual (1,0%, para 118,7 pontos), nível de consumo atual (1,8%, para 85,6 pontos), perspectiva de consumo (0,7%, para 105,1 pontos), acesso ao crédito (2,2%, para 91,5 pontos) e momento para aquisição de bens duráveis (3,4%, para 63,4 pontos).
O único componente com recuo foi o de perspectiva profissional (-0,2%, para 118,1 pontos).
“A inflação corrente caindo mais do que o esperado tem deixado os consumidores mais dispostos a consumir. Em julho, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou uma inflação anual aproximadamente quatro vezes menor do que há um ano. Além disso, o consumidor sente maior segurança no emprego, com o mercado de trabalho apresentando alta nas contratações formais, mesmo que em menor intensidade”, ressalta a economista Izis Ferreira, responsável pela pesquisa da CNC, no relatório do indicador.
Ainda segundo a economista, embora com juros de mercado desacelerando, o endividamento ainda em nível elevado limita a capacidade de consumo e os efeitos benéficos da maior renda disponível. Tanto que 40 em cada 100 consumidores ainda indicam que estão comprando menos do que há um ano. Nesse contexto, as vendas no varejo têm demonstrado dificuldade de sustentar crescimento de forma uniforme entre os segmentos.”
No recorte por gênero, a pesquisa mostrou melhora na propensão às compras tanto entre os homens quanto entre as mulheres. A intenção de consumo dos homens subiu de 100,6 pontos em julho para 102,2 pontos em agosto, na zona de otimismo, enquanto a das mulheres cresceu de 97,9 pontos para 99,7 pontos, ainda no campo negativo (abaixo de 100 pontos), apesar do avanço.
“Do total de consumidoras, 41,2% apontam que estão mais seguras no emprego atualmente, e 10,6% afirmaram estar desempregadas. Entre os homens, 43,5% afirmam estar mais seguros no trabalho, e somente 7,8% apontam desocupação”, completou a CNC.
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