A deflação no IPCA-15 em julho fez com que o mercado financeiro reduzisse as previsões de inflação. O Mitsubishi UFJ Financial Group (MUFG) revisou a projeção para 5%, bem abaixo dos 6% anteriores.
Para Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena, apesar de o IPCA começar a subir no segundo semestre, a previsão é de uma inflação de 5% no ano.
O Boletim Focus, que traz uma média do que espera o mercado financeiro brasileiro, reduziu a previsão de inflação para este ano de 4,95% para 4,9% em 2023 e de 3,92% para 3,9% em 2024, anunciou o Banco Central.
Após nove meses no campo positivo, a prévia da inflação foi de -0,07% em julho. Houve queda de 0,11 ponto percentual em relação à taxa do mês anterior (0,04%).
O principal impacto negativo para esse resultado veio da retração nos preços da energia elétrica residencial (-3,45%), após a incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas de julho. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado hoje pelo IBGE. No ano, há alta acumulada de 3,09% e, em 12 meses, de 3,19%.
Além da energia elétrica residencial (-3,45%), a queda nos preços do botijão de gás (-2,10%) também influenciou a retração do grupo habitação (-0,94%), um dos que mais impactaram o índice geral. Já a taxa de água de esgoto (0,20%) está entre os itens que subiram. A alta foi consequência dos reajustes realizados em três áreas: de 8,33% em Belém (3,18%), a partir de 28 de maio; de 3,45% em uma das concessionárias em Porto Alegre (0,77%), a partir de 1º de julho; e de 8,20% em Curitiba (0,25%), a partir de 17 de maio.
Entre os grupos analisados pela pesquisa, a outra maior influência sobre o índice geral veio de Alimentação e bebidas (-0,40%), cujo resultado é relacionado à deflação de alimentação no domicílio (-0,72%). Entre os alimentos com preços em queda, destacam-se o feijão mulatinho (-10,20%), o óleo de soja (-6,14%), o leite longa vida (-2,50%) e as carnes (-2,42%). Por outro lado, a batata inglesa (10,25%) e o alho (3,74%) ficaram mais caros neste mês.
Com a alta mais intensa do lanche (0,34% em junho para 1,02% em julho), a alimentação fora do domicílio (0,46%) acelerou em relação ao mês anterior (0,29%). Já a refeição (0,17%) desacelerou na mesma comparação (0,28%).
Segundo Andréa Angelo, da Warren Rena, “a leitura de hoje chamou atenção para o bom desempenho da inflação de serviços e, com núcleos arrefecendo nas medidas de média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada. A medida de serviços subjacentes na métrica dessazonalizada de média móvel 3 meses desacelerou para 5,7%. A difusão de serviços reverteu a tendência lateral e caiu para 46%. Além disso, a nossa métrica de serviços inerciais seguiu desinflando.”
De acordo com ela, “a avaliação de que a abertura qualitativa em serviços foi melhor que o esperado confirma a nossa expectativa de que a desinflação dos núcleos e serviços continua, e deve encerrar o ano em cerca de 5,0% com intensificação a partir de agosto. O número de hoje volta com o otimismo de que a velocidade de arrefecimento está em linha com a projetada, embora com muita volatilidade entre as divulgações”.
“A desaceleração na leitura mensal de 0,04% para -0,07%”, prossegue Andréa Angelo, “ocorreu em razão do desconto especial, conhecido como tarifa ‘Bônus Itaipu’, aplicado na conta de energia dos consumidores no mês de julho. Somente o item energia elétrica contribui com -19 bps neste mês. Na abertura do grupo habitação, outro destaque baixista no mês veio dos itens aluguel e condomínio (somados contribuiu com -6bps na desaceleração entre junho e julho). No mesmo sentido, o grupo vestuário, arrefeceu para variação de 0,04% de alta de 0,79%. Por outro lado, a pressão altista decorreu de gasolina que teve alta de 3%, após deflação de -3,4% em junho, reagindo a volta dos impostos federais.”
Andréa avalia que o impacto do desconto da MP de automóveis veio aquém do esperado em autos novos, queda de 2,34% (ante -3,20%), contrabalançado pela alta de 4,7% menor que esperada em passagem aérea. Sobre o desconto de automóveis novos, entendemos que a deflação do item será menor assim como a reversão do seu desconto, o que deixa nulo seu impacto entre julho e agosto.
Já de acordo com a última edição da Pesquisa Pulso, realizada em abril pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o aumento dos custos das empresas era a principal preocupação dos donos de pequenos negócios.
“A queda da inflação e principalmente a sua estabilização em níveis baixos por tempo prolongado tem impacto positivo sobre os pequenos negócios uma vez que tende a reduzir os custos, sobretudo de energia, ampliando consequentemente as margens de lucro dos negócios”, comenta. Ainda de acordo com o presidente do Sebrae, um ambiente com inflação mais baixa terá reflexos diretos sobre o nível da taxa de juros, uma vez que a taxa Selic é utilizada pelo Banco Central para controlar a inflação e deter o seu aumento.
“Uma inflação mais baixa abre espaço para a queda da taxa Selic e consequentemente de todas as taxas de juros de crédito na economia, o que por sua vez pode contribuir para um fluxo maior de crédito para os pequenos negócios”, avalia Décio Lima. Ele acredita que o mais importante não é o nível atual da inflação e sim a sua trajetória de queda e estabilização no futuro.
“Essa é mais uma boa notícia que, combinada a outros esforços do governo federal, como o programa de renegociação de dívidas (o Desenrola), a discussão sobre a reforma tributária, entre outras, deve contribuir para um ambiente de negócios mais propício e favorável ao crescimento e desenvolvimento econômico do país, com uma atuação de destaque dos pequenos negócios”, comenta.
Com informações da Agência IBGE Notícias
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