Por Roberto de Lira
O Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia nesta quarta-feira (22) sua decisão sobre a taxa de juros numa semana na qual o Banco Central voltou a ser alvo de críticas e comentários negativos até pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Assim, mesmo que a expectativa de manutenção da Selic em 13,75% seja unânime, o conteúdo do comunicado do BC e a forma como ele vai se posicionar em relação ao atual balanço de riscos estão sendo aguardados com enorme interesse pelos agentes do mercado financeiro.
Na última reunião do Copom, em 1° de fevereiro, a opção também foi pela manutenção da taxa de juros, mas o tom mais duro (“hawkish”) do comunicado surpreendeu muitos analistas. Até mesmo um cenário alternativo de Selic estacionada no mesmo patamar num horizonte de seis trimestres à frente foi desenhado pela autoridade monetária.
Desde então, o que ocorreu foi uma deterioração maior das expectativas e vem daí a leitura de que a manutenção do plano de voo seria o cenário mais provável e seguro no momento.
Relatório da XP Investimentos assinado pelo economista-chefe, Caio Megale, e pelo economista Rodolfo Margato, destaca eventos externos e domésticos importantes ocorreram desde a última reunião do Copom. “Surgiram problemas no sistema bancário dos países centrais, o risco de crédito no mercado doméstico aumentou e o governo acelerou as discussões sobre o novo arcabouço fiscal”, diz o texto
Além disso, ao avaliar o fluxo de dados econômicos e os preços de ativos desde o último Copom, a XP destacou que o balanço se mostrou negativo para a dinâmica da inflação.
“Os núcleos do IPCA seguem rodando perto de 6%, sem sinais de perda de força. As expectativas de inflação vêm subindo e se afastando das metas, refletindo o risco de sustentabilidade da dívida pública e a possibilidade de aumento das metas de inflação”, afirmam no relatório.
A XP lembra que, na última reunião, as projeções de inflação no cenário de referência do BC eram de 5,6% para 2023 e 3,4% para 2024. Agora, as expectativas de inflação no Boletim Focus estão em 5,95% em 2023 e em 4,1% para 2024.
Ao mesmo tempo, a mediana das estimativas para a taxa Selic na pesquisa subiu de 12,50% para 12,75% em 2023, e de 9,50% para 10,00% em 2024. E a taxa de câmbio se depreciou em meio às incertezas fiscais domésticas e choques adversos no sistema financeiro global, de R$ 5,10 por dólar para R$ 5,27.
Sobre as projeções de inflação no cenário de referência do BC, a expectativa é que elas devem avançar em todo o horizonte relevante, de 5,6% para 5,8% em 2023, e de 3,4% para 3,5% em 2024.
Para o Santander, além da manutenção da taxa, o Copom deve reforçar que não fará grandes alterações no plano de voo da política monetária, mantendo a sinalização de que seguirá avaliando se a estratégia de manutenção dos juros por período prolongado assegurará a convergência da inflação.
O banco entende que os riscos inflacionários seguem elevados, com uma assimetria ainda altista. “Há considerável incerteza na seara fiscal. Além disto, embora seja positiva a iniciativa de dar celeridade às discussões sobre o novo arcabouço fiscal, sabe-se ainda poucos detalhes da proposta que será submetida ao Congresso Nacional”, pondera.
Para o Santander, o espaço sinalizado para aumento da despesa pública no Brasil continuará a ser um fator chave para as expectativas macroeconômicas e inflacionárias para os próximos anos.
Não por acaso, lembra o banco, desde a última reunião do Copom houve um aumento de 0,15 a 0,30 ponto porcentual nas projeções de inflação para os horizontes de 2023 a 2026, com a mediana das estimativas de médio e longo prazo mostrando inflação esperada ao redor de 4%.
Acilio Marinello, Coordenador do MBA Executivo em Digital Finance da Trevisan Escola de Negócios, diz que mesmo com a projeção de que há pouca chance de um corte de juros no primeiro semestre deste ano, tanto os meios de produção como o próprio mercado financeiro e as pessoas em geral estão sentindo cada vez mais a escassez de crédito.
“Essa escassez de crédito, influenciada diretamente pelo patamar da taxa de juros, vai começar a gerar impactos na economia”, prevê.
Certifique-se de preencher os campos indicados com (*). Não é permitido código HTML.