O juro médio total cobrado pelos bancos no rotativo do cartão de crédito subiu 3,5 pontos porcentuais de julho para agosto, de 394,9% para 398,4% ao ano, informou na quarta-feira (28) o Banco Central. No caso do parcelado do cartão de crédito, a taxa passou de 181,7% para 185,9% ao ano.
O rotativo do cartão, juntamente com o cheque especial, é uma modalidade de crédito emergencial, muito acessada em momentos de dificuldades financeiras. Ele é cobrado quando a pessoa paga menos que o valor integral da fatura do cartão e parcela o restante.
Desde abril de 2017 os bancos são obrigados a transferir, após um mês, a dívida do rotativo para o parcelado. A intenção da regra era permitir que a taxa de juros do rotativo recuasse, já que o risco de inadimplência em tese cairia com a migração para o parcelado.
Mas nos últimos 12 meses o juro médio do rotativo já subiu 62,9 pontos percentuais (para os atuais 398,4% ao ano), contra 22,3 p.p. do parcelado (para 185,9% ao ano). As taxas do cheque especial subiram 1,2 p.p. no mês e 3,5 p.p. em 12 meses (para 128,6% ao ano).
A alta dos juros bancários ocorre no momento em que a taxa básica de juros da economia (a Selic) está em seu maior nível desde janeiro de 2017 (13,75% ao ano). Mas o ciclo de alta “intenso e tempestivo” da Selic parece ter chegado ao fim.
A Selic foi mantida em 13,75% ao ano na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, após 12 altas consecutivas. O ciclo de aperto monetário começou em março de 2021, quando a taxa básica de juros estava em 2% ao ano, para tentar conter a inflação (pois juros mais altos encarecem o crédito e diminuem a demanda).
Mesmo com a alta dos juros, o estoque de todos os empréstimos concedidos pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ficou em R$ 5,067 trilhões em agosto, uma alta de 1,6% em relação a julho e de 16,8% em 12 meses. Com isso, o saldo do crédito chegou a 54,3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Os juros do rotativo, do parcelado e do cheque especial fazem parte do crédito livre, em que os bancos têm autonomia para emprestar o dinheiro captado no mercado e definir as taxas de juros cobradas dos clientes. O crédito direcionado tem regras definidas e é destinado basicamente aos setores habitacional, rural e de infraestrutura e ao microcrédito.
Contando todas as modalidades de empréstimo disponíveis, a taxa média de juros das concessões de crédito (livre e direcionado) teve leve queda em agosto (-0,7 p.p.), mas manteve a tendência de alta em 12 meses (+7,6 p.p), para 28,7% ao ano.
No crédito livre para as famílias, a taxa média de juros chegou a 53,9% ao ano (+0,5 p.p. no mês e +13,4 p.p. em 12 meses). Nas contratações com empresas, a taxa livre está atualmente em 22,8% ao ano (-0,6 p.p. e +6,6 p.p., respectivamente).
No crédito direcionado, o juro médio para pessoas físicas ficou em 10,6% ao ano em agosto (estável em relação a julho e uma alta de 3,5 pontos percentuais em 12 meses). Para empresas, a taxa caiu 6,3 pontos no mês e 1 ponto em 12 meses, para 9,1% ao ano.
Para as pessoas físicas, o juro médio do cartão de crédito foi de 87,3% ao ano (+2,1 p.p. no mês e +25,5 p.p. em 12 meses). No crédito pessoal não consignado as taxas caíram 1,1 p.p. em agosto, mas ainda sobem 5,5 p.p. em 12 meses (para 85,4% ao ano).
No crédito livre às empresas, a linha de capital de giro está em 22% ao ano (-1,5 p.p. no mês e +5,8 p.p. em 12 meses) e a de financiamento a importações, em 11,7% ao ano (-2,3 p.p. e +1,7 p.p., respetivamente).
O cheque especial para empresas atingiu 325,4% ao ano (+3,6 p.p. em agosto e -1,2 p.p. em 12 meses) e o juro médio cartão de crédito, 39,7% ao ano (-3,5 p.p. e +14,1 p.p., respectivamente).
O BC diz que a inadimplência (atrasos acima de 90 dias) tem se mantido estável há bastante tempo — com pequenas oscilações — e registrou 2,8% em agosto. Nas operações de crédito livre para pessoas físicas, ela está em 5,6% e, para pessoas jurídicas, em 1,8%.
O endividamento das famílias (relação entre o saldo das dívidas e a renda acumulada em 12 meses) chegou a 53,1% em julho, recorde da série histórica iniciada em janeiro de 2005. Isso ocorre devido o aumento das concessões de empréstimos (+0,3% no mês e +5,1% em 12 meses).
Excluindo-se o financiamento imobiliário, que pega um montante considerável da renda, o endividamento das famílias ficou em 33,6%.
Já o comprometimento da renda (relação entre o valor médio para pagamento das dívidas e a renda média apurada no período) ficou em 28,6% em julho — também o recorde da série —, com crescimento de 0,5% no mês e de 3,8% em 12 meses.
Para esses dados há uma defasagem maior de divulgação, pois o Banco Central depende de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a renda das famílias. Por isso os dados são de julho.
(Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil)
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