Por Gabriel Roca, Valor — São Paulo
A recuperação do choque pandêmico do ano passado está gerando uma inflação mais alta, segundo o J.P. Morgan. Depois que a inflação global de preços ao consumidor recuou para 1,2% em 2020, o banco espera que o número suba acima de 3% neste ano, bem acima do ritmo médio de 2,2% do último ciclo de expansão econômica.
"No entanto, assim como o crescimento do PIB global esperado de 5,7% para este ano representa uma dinâmica transitória, o aumento da inflação projetado para este ano reflete um conjunto de pressões temporárias relacionadas aos preços das commodities, gargalos e normalização dos níveis de preços", dizem os economistas Bruce Kasman e Joseph Lupton.
Como resultado, eles argumentam que a recuperação deste ano, por si só, lança pouca luz sobre a trajetória da inflação de médio prazo, um ponto que vem sendo enfatizado pelo Fed e por outros grandes bancos centrais.
De acordo com os economistas, a recuperação da inflação em 2021 pode ser minimizada, mas eles também alertam para um conjunto de mudanças subjacentes que provavelmente promoverão uma inclinação sustentada para cima na inflação nos países desenvolvidos.
No centro desta percepção está, principalmente, o compromisso reforçado dos bancos centrais de empurrar a inflação para cima, ao mesmo tempo em que políticas fiscais mais orientadas para o crescimento tomam corpo.
"Nossa previsão incorpora um aumento no núcleo da inflação dos países desenvolvidos para cima de 2% durante 2023-2024 pela primeira vez em mais de um quarto de século", dizem Kasman e Lupton.
Segundo eles, nesta estimativa está contemplada a ideia de que o Federal Reserve entregaria o seu "overshoot'' (uma inflação acima de sua meta de 2%) e o Banco Central Europeu (BCE) teria sucesso em mover a inflação de volta para 2%.
"Esperamos que a inflação do Japão permaneça deprimida, mas vemos o Banco do Japão (BoJ) elevando a inflação japonesa de volta para 1% pela primeira vez em duas décadas", dizem.
Segundo eles, é importante também observar que os bancos centrais buscam uma inflação mais alta, mas não definitivamente alta.
"Como resultado, um aumento sustentado da inflação acima das zonas de conforto do banco central - para 3% ou mais nos EUA e 2,5% na área do euro - provocaria uma mudança em direção a posturas mais rígidas por parte dos principais bancos centrais, o que poderia desencadear a próxima recessão", concluem.
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