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Inflação deve espalhar em 2021 e BC precisa estar atento já no início do 1º trimestre, diz economista da FGV

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Por Anaïs Fernandes, Valor — São Paulo

O Banco Central deve estar atento ao bom comportamento dos preços logo no início do primeiro trimestre de 2021. A perspectiva para o próximo ano é que, sem sair de cena, a alimentação traga algum alívio, mas outros segmentos como serviços, bens duráveis e preços administrados devem ganhar destaque, podendo criar pressão inflacionária que peça atuação mais imediata da política monetária, afirma André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV)

A expectativa para 2021 é haja um espalhamento da inflação, ainda muito concentrada em alimentos neste ano. Segundo Braz, é provável que a inflação ao produtor, mostrando um aumento de mais de 60% nas matérias-primas brutas, imponha desafios à cadeia produtiva justo em um momento de retomada, o que pode incentivar esse espalhamento no ano que vem para setores em que isso foi evitado na pandemia. "Já percebemos neste ano aceleração em bens duráveis, que foi um segmento que ficou muito parado, principalmente no primeiro semestre", exemplifica.

É esse espalhamento da inflação que a autoridade monetária tem que perceber como persistente e em diferentes setores para tomar uma decisão de juros, diz Braz, descartando, porém, qualquer semelhança com o cenário vivido pelo Brasil antes da estabilização inflacionária após o Plano Real.

Para ele, se incertezas importantes forem suavizadas, como a propagação da pandemia, com a vacina, e a trajetória da dívida pública brasileira, com sinalizações críveis de controle fiscal, seria possível encerrar 2021 com uma inflação ao redor de 3,5%, abaixo, portanto, do centro da meta para o ano, de 3,75%. Por ora, Braz aposta nesse cenário mais otimista, mas, se nada for feito, a inflação pode chegar a 4,5%, tornando-se um desafio maior ao consumidor, observa o economista.

"O ano que vem é de retomada do crescimento, claro que isso deve gerar um pouco mais de emprego, consumo e um desafio maior para a inflação. Se a gente não conseguir estabilizar a questão do câmbio, trabalhando bem essas incertezas, isso pode continuar gerando pressão de custo para segmentos importantes da atividade que, gradualmente, vão se sentir à vontade ou tão pressionados que não vão encontrar outra solução que não seja repassar aos preços finais. Aí, vamos começar a ver persistência e espalhamento maior dessa pressão inflacionária em segmentos que não vimos em 2020. Vai ser a luz amarela", afirma.

Mexer em juros não deve contribuir para uma retomada tão rápida quanto a deseja, observa Braz, mas seria também a prevenção de um problema ainda maior e que impacta principalmente pessoas menos favorecidas, que já sentiram mais os efeitos da pandemia, diz Braz. "Quem vai perder o auxílio emergencial e não se recolocar agora no mercado de trabalho vai ficar em uma situação muito complicada.”

Retrospectiva

Em 2020, a perspectiva inicial era que a pandemia traria um caráter desinflacionário, lembra Braz. Logo em março, o que subiram foram os preços dos alimentos, conforme as famílias antecipavam compras para estocar, por medo de desabastecimento ou para reduzir a circulação. Ao longo do ano, outros fatores foram pesando, como problemas de safra, a sazonalidade agrícola e a intensa desvalorização do real, impulsionada tanto pela incerteza sanitária quanto fiscal no Brasil. O câmbio desvalorizado provoca um duplo efeito, porque torna as exportações brasileiras mais competitivas, desviando produtos do mercado doméstico, e deixa matérias-primas e insumos mais caros para a produção final. Foi uma "tempestade perfeita", segundo Braz.

Parte do resultado é que a ceia de Natal deste ano deve ficar de 15% a 20% mais cara do que no ano passado, diz o economista, destacando a alta nos preços das proteínas.

Para 2021, não é esperada uma alta nos preços das commodities como a que deve ser observada neste ano, até porque não está no radar uma nova desvalorização cambial tão intensa, afirma Braz. Na reta final de 2020, porém, soja e milho seguem subindo na cotação em dólar, o que continua impondo alguma pressão ao custo de criação dos animais, observa o economista. "A alimentação não vai sumir do cenário de inflação em 2021. Pode ser menor do que neste ano, mas ela vai continuar influenciando.”

 Aluguel e gás

 Respondendo a perguntas do público, Braz comentou ainda que, embora o Índice Geral de Preços (IGP) seja muito mencionado em contratos de aluguel, especialmente o IGP-M, nem sempre ele é aplicado na prática. Indício disso é que pesquisa de preços ao consumidor da FGV indica que, em 12 meses, a variação acumulada dos aluguéis é de 3%, “muito longe do IGP”, diz Braz.

Sobre a possibilidade de a abertura do mercado de gás ajudar a reduzir seu preço, o economista pondera que a relação não é direta, já que o valor está atrelado a outras questões, como a cotação internacional do petróleo e a taxa de câmbio. “Ser mais competitivo dá um pouco mais de flexibilidade, estimula a concorrência, o que pode ser benéfico para o consumidor. Mas não dá para assinar um contrato dizendo que definitivamente o preço do gás vai cair”, afirma.

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