Por Adriana Cotias, Valor — São Paulo
Mesmo com a pressão observada nas Letras Financeiras do Tesouro (LFT ou Tesouro Selic), os títulos do governo permanecem como destino para as reservas de curto prazo do investidor, que busca proteção do capital.
Para Marília Fontes, sócia da empresa de análise Nord Research, o melhor investimento conservador hoje é o papel com vencimento em 2025 que rende 110% do CDI — na sexta-feira, antes das medidas de Tesouro e BC, o retorno embutido era de 119%. “Que CDB de banco de primeira linha traria um retorno desses? O investidor teria que ir para papéis mais arriscados”, diz.
Quando se olha o universo de renda fixa, há prêmios em toda a curva de juros, em taxas nominais ou reais, diz Cal Constantino, da Santander Asset Management. As projeções da casa apontam a Selic estável neste ano, subindo a 2,5% no fim de 2021. “O BC deixa claro que a intenção é manter os juros por mais tempo, desde que a economia não seja desviada da rota.” O cenário base da gestora é que a agenda de reformas será retomada e que as pressões inflacionárias restrinjam-se ao curto prazo.
Para o economista Marcelo d’Agosto, não vai ser o deságio nos títulos pós-fixados que vai animar o investidor a financiar o governo. Marília, da Nord, cita que entre o melhor preço da LFT, em 10 de setembro, e o pior, em 7 de outubro, o prejuízo era de 1,32%. Já na cotação de ontem, a perda caiu para 0,55%.
Na renda fixa em geral, ela vê poucas oportunidades porque o juro caiu demais e o risco de o país adotar estratégias ruins do lado fiscal é grande. “A Selic já estava muito baixa e as taxas longas também, a assimetria era ruim em prefixados ou em inflação mesmo antes da pandemia”, diz. Com a crise sanitária e econômica, o governo reagiu com um estímulo gigantesco, só comparável a economias de alta renda. “O Brasil não tinha condição de fazer [o estímulo] fiscal que fez. Depois da Previdência que outra reforma vai fazer para economizar R$ 800 bilhões?”
Embora a desvalorização de fundos DI e do Tesouro Selic seja inusitada, o barulho é mais pela surpresa do que pela magnitude, diz Camilla Dolle, analista de renda fixa da XP Investimentos. Ela vê, contudo, prêmios interessantes em títulos bancários e no Tesouro IPCA+. “Apesar dos ruídos, é o melhor risco de crédito do país.”
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