Ao contrário de outros momentos de crise, os bancos privados brasileiros assumiram o protagonismo na concessão de crédito a empresas de grande porte, em detrimento dos Bancos Públicos. O cenário é fruto de uma opção de política econômica do governo federal.
Somando novas contratações de empréstimos e renovações para todos os segmentos – grandes empresas, empresas médias, pequenas e médias e pessoas físicas – as instituições privadas concederam um total de R$ 573 bilhões entre 16 de março e 31 de julho. Os Públicos foram responsáveis por R$ 331,1 bilhões em concessões de crédito.
Os dados são do Banco Central e foram divulgados por uma reportagem do Valor Econômico. Para Jorge Mattoso, professor aposentado do Instituto de Economia da Unicamp, a opção do governo não apenas revela uma visão de preferência por entes privados, mas também uma tática que visa o desmonte dos públicos.
“O problema hoje é a retirada do conjunto dos bancos públicos de sua atividade fundamental, visando sua privatização. O que tem ampliado a participação dos bancos privados, mesmo nessa crise gigantesca”, disse ao Reconta Aí.
É no crédito para grandes empresas onde a discrepância é maior. Enquanto os privados ofertaram R$ 321,7 bilhões ao setor, as instituições públicas concederam R$ 50,2 bilhões.
Para empresas de médio porte, a diferença cai. Para o setor, os privados emprestaram R$ 63,6 bilhões. Já os Públicos R$ 37,7 bilhões.
A diferença cai ainda mais no crédito oferecido para pequenas e médias empresas: R$ 60,3 bi (privados) ante R$ 56,2 bi (públicos). O setor é responsável pela maior parte dos empregos no país.
Apesar do cenário, a reclamação dos pequenos empresários é constante. O setor reclama que o volume de crédito, parte garantido pelo próprio Tesouro Nacional, é insuficiente.
Considerando-se cidadãos e não empresas, ou seja, crédito para pessoa física, a relação se inverte. Os privados aportaram R$ 127,9 bilhões. Já as instituições financeiras públicas foram responsáveis por R$ 187 bilhões em empréstimos.
Todos os dados citados consideram tanto novos contratos de empréstimo como renovações.
Ainda que, em 2020, seja possível que o volume total de crédito concedido pelos Bancos Públicos fique em um patamar superior ao do ano anterior, o exemplo do BNDES, banco voltado para o desenvolvimento econômico e que teve um papel fundamental na crise de 2008, é ilustrativo: 2019 marcou justamente o ano em que houve o menor desembolso de sua história, de R$ 55,3 bilhões.
Para efeitos comparativos, o ápice do desembolso do BNDES – que teve uma trajetória ascendente encerrada entre o período de 2013 e 2015 – se deu em 2013, com R$ 190 bi, em valores corrigidos, R$ 287 bi. Ou seja, sozinho, desembolsou metade do que hoje os privados estão fazendo.
https://recontaai.com.br/atualiza-ai/credito-retracao-de-bancos-publicos-explica-aumento-de-privados-no-setor/
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