SÃO PAULO – A pandemia tem gerado muitas lições e acelerado algumas tendências entre as empresas que, diante das paralisações para conter o avanço do vírus e das mudanças causadas no consumo, estão buscando soluções para enfrentar os impactos causados pela crise em seus negócios.
Soluções que vão desde a transformação digital das operações, mudança da cultura corporativa, com a adoção do teletrabalho, foco em diversidade e a preocupação com a saúde e bem-estar dos consumidores e colaboradores e o cuidado com as questões socioambientais.
Esses movimentos foram temas de diversos painéis durante a Expert XP 2020, conferência promovida pela XP Inc. na última semana.
Garantir a segurança de seus colaboradores e desenvolver ações para ajudar a comunidade ao seu redor foram as preocupações iniciais de empresas como XP Inc., Renner e Ambev quando a pandemia do coronavírus chegou ao país.
A XP Investimentos criou a campanha “Juntos Transformamos” e doou o equivalente a R$ 30 milhões em cestas básicas para comunidades carentes. Já a Renner doou máscaras de proteção e aventais e fez doações em torno de R$ 4,1 milhões para hospitais na linha de frente de combate à Covid-19.
“Essa crise acordou o lado cidadão de todos nós”, disse Carlos Brito, CEO da Anheuser-Busch InBev durante painel sobre liderança. Durante a pandemia, a Ambev produziu álcool em gel e máscaras acrílicas em suas fábricas, além de ter ajudado na construção de 100 novos leitos para atender a rede pública de São Paulo.
Com o cenário que se forma, Beatriz Johannpeter, uma das herdeiras da família Gerdau, afirmou que as empresas brasileiras estão mais preocupadas em gerar valor para suas marcas, a partir de investimentos de impacto e com a criação de estruturas de governança com foco nessas áreas.
Em painel com empresários e investidores engajados em projetos ambientais e sociais, a executiva pontuou que, apesar de as doações terem aumentado durante a pandemia, é preciso desenvolver mais ações continuadas para que os investimentos gerem impactos ainda maiores.
“A sociedade civil organizada precisa desses recursos e realmente as empresas têm um papel importante nesse sentido. Os empresários, as famílias bilionárias podem contribuir e cada um de nós, como cidadãos, também”, disse.
Assumir um papel de transformação numa sociedade tão desigual como a brasileira deve ser um dos aprendizados gerados pela crise, de acordo com Eduardo Lyra, fundador da ONG Gerando Falcões.
Em conversa com o CEO da XP Inc., Guilherme Benchimol e Izabella Mattar, CEO da Xpeed, plataforma de educação da XP, o empreendedor social, que desde do início da pandemia arrecadou mais de R$ 20 milhões em doações, reforçou que a cultura de filantropia deve ser disseminada no país nos próximos anos.
“Uma ação agora resolve um problema pontual, mas o que vai efetivamente fazer a diferença é se todo mundo participar das agendas mais importantes e estratégicas para o país por décadas. Temos um Brasil com quase 14 milhões de brasileiros em favelas e 60 milhões de pessoas sem acesso à internet. Os problemas são reais e só resolveremos essas questões, que estão enraizadas na sociedade brasileira, se tivermos uma capacidade de atuar no longo prazo”, disse Lyra.
Já os empreendedores sociais Rodrigo Pipponzi e Alex Seibel pontuaram a importância de fomentar esse ecossistema no momento em que a a filantropia e a doação se tornam instrumentos poderosos nos esforços de reduzir as disparidades sociais existentes.
“O capital tem um poder gigantesco de escalar as coisas e esses negócios ajudam a construir um novo modelo de sociedade e atender os desafios globais que temos, sem perder a rentabilidade financeira. A filantropia tem o seu papel, mas o negócio precisa do lucro. Eu não vejo conflito em ser rentável e resolver problemas da sociedade”.
Na mesma linha, Andreza Rocha, CEO da AfrotechBR e head de operações e diversidade da Brasil JS, afirmou que entre mudar o mundo e ganhar dinheiro, as pessoas devem ficar com os dois.
“Tem escolha e espaço para todas as pessoas. Encontre seu propósito, que pode mudar ao longo do tempo. Depois saiba a qual nicho você atende e seu papel nesse processo. Faz sentido empreender onde couber”, disse durante um painel na Expert XP 2020.
Durante o painel “O avanço das mulheres na liderança de PMEs é um modelo a ser seguido”, que abordou os desafios que essas empreendedoras têm na construção do próprio negócio, Ana Fontes, empreendedora, pesquisadora e fundadora da Rede Mulher, destaca que não existe um parâmetro para o sucesso e ressaltou que o mundo corporativo e a sociedade, como um todo, ainda possuem dificuldade em falar dos erros durante essa processo de inclusão.
“Empacotar as pessoas nas mesmas caixas não funciona. Empreender tem muito mais a ver com a atitude empreendedora do que com oportunidade em si. As redes sociais só mostram o que deu certo. Importante dizer que nem tudo são flores. É uma jornada, não existe sucesso da noite para o dia. Quanto você está disposto? Em que momento você está? Quem vê o flash, não vê o ‘corre’”, afirma.
Amanda Graciano, head de desenvolvimento de negócios na iDEXO, acrescenta que essa “glamourização” do empreendedorismo é ruim.
“O trabalho é duro por trás de qualquer reconhecimento. Há uma tendência em olhar as experiências dos outros e tentar espelhar no que temos. Não tem como copiar um homem branco, herdeiro, poliglota, sendo uma mulher negra. É utópico porque não tenho esses mesmos recursos para criar minha história”, disse.
Por parte das grandes corporações, a tendência precisa se tornar um pilar fundamental, conforme disse o CEO da Unidas, Luis Fernando Porto, destacando ainda que “empresas e líderes que não compreenderem a responsabilidade social e diversidade como regra estarão fora do jogo”.
Essa mudança de postura também vem da pressão dos consumidores, que estão cada vez mais engajados e não aceitam mais o “lucro a qualquer custo”, como apontou Tania Consentino, presidente da Microsoft no Brasil, durante outro painel do evento.
“A preocupação social é algo que toda empresa deveria ter. Para ter este olhar para a sociedade, é preciso ter um grupo diverso, que inclua vários grupos da sociedade, dentro da empresa”, ressaltou.
Sobre inovação, Ana, da Rede Mulher, pontuou que ela pode estar em qualquer lugar. “As pessoas veem inovação como ciência da NASA, mas a mulher que faz bolo no pote pode inovar, a que faz cabelo, a que tem negócio pequeno. É possível inovar em qualquer nível”, disse.
Andreza, da Brasil JS, em linha com essa ideia, afirma que inovar é automatizar qualquer parte do negócio. “É usar a tecnologia mais adaptada a você e ao seu segmento e negócio. A transformação digital é acessível, há quatro meses estamos descobrindo isso”, disse.
Porém, para se ter sucesso nessa jornada, Konrad Dantas, fundador do Kondzilla, garante que o aprendizado é constante e nada fácil. “Você vai ter que aprender a gerir pessoas, entender dos tributos, fornecedores, custos e muito mais”, disse.
Por Equipe InfoMoney
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