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Coronavírus deve causar maior queda em consumo de carne em décadas

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Por Bloomberg Brasil

A pandemia deve causar a maior retração no consumo global de carnes em décadas.

A projeção é de que o consumo per capita caia 3% em 2020, para o menor volume em nove anos. A queda na comparação com o ano passado seria a maior desde pelo menos 2000, segundo dados das Nações Unidas. Mas analistas do mundo todo projetam quedas não apenas per capita, mas também para a demanda geral em suas regiões.

É uma drástica virada para um setor que passou a se apoiar em um crescimento constante. E a mudança é observada em todos os principais mercados, inclusive nos EUA, onde estimativas apontam que o consumo per capita de carne não retornará aos níveis pré-pandemia até pelo menos depois de 2025.

Há uma série de fatores que contribuem para a mudança. Com o impacto econômico do coronavírus, consumidores tentam gastar menos com supermercado. Restaurantes fechados também afetam a demanda, porque as pessoas tendem a comer mais carne fora de casa.

Na China, que responde por cerca de 25% do consumo mundial, há crescente desconfiança em relação a produtos de origem animal. Isso depois que o governo chinês sugeriu que proteínas importadas estariam associadas a um surto de coronavírus em Pequim. Interrupções da produção, devido a surtos em frigoríficos nos EUA, também criaram problemas de oferta e reduziram o consumo de carne.

Ativistas do clima defendem há anos a redução do consumo de carne. Segundo alguns cálculos, a agricultura é responsável por mais emissões globais de gases de efeito estufa do que o transporte, em parte devido ao peso da pecuária. Carnes e laticínios respondem por até 18% das emissões globais de gases de efeito estufa causadas por seres humanos.

O que resta saber é até que ponto a mudança causada pela pandemia vai durar. Se consumidores se acostumaram a comer menos carne em uma pandemia, isso poderia significar uma nova era para as dietas no mundo inteiro?

Há indícios de uma mudança estrutural. Milhões de pessoas têm optado por comer mais proteínas vegetais por causa de preocupações ambientais. Além disso, a explosão de casos de coronavírus em unidades de abate e processadoras – em países como EUA, Brasil e Alemanha – destacou o impacto sobre trabalhadores que desempenham funções de risco com baixos salários e poucos benefícios. Mas é muito cedo para dizer se o escrutínio público sobre as condições dos trabalhadores afetará a demanda.

Europa

Na União Europeia, o consumo de carne suína deve cair para o menor nível em sete anos em 2020, com a carne bovina e de frango também atingindo mínimas, segundo previsão do Departamento de Agricultura dos EUA. A pandemia chegou em um contexto em que já havia sinais de redução da demanda por carne em regiões do bloco por questões ambientais e de bem-estar animal.

China

O consumo de carne suína da China pode cair cerca de 35% em 2020 quando comparado com níveis normais, antes da pandemia e do surto de peste suína africana, disse Lin Guofa, analista sênior da Bric Agriculture, consultoria com sede em Pequim. O país responde por 40% da demanda mundial de carne suína.

Brasil

Mesmo no Brasil, o consumo de carne passa por um intenso processo de mudança, segundo Wagner Yanaguizawa, analista do Rabobank. A pandemia aumenta o interesse do consumidor por temas como segurança alimentar, rastreabilidade e sustentabilidade, disse.

E, como o país agora é um novo epicentro do coronavírus, uma recessão é esperada com impacto no poder de compra dos consumidores.

“O consumo de todas as proteínas animais deve sofrer com a renda mais baixa, mas a carne bovina cairá mais”, disse Caio Toledo, consultor de gestão de riscos e head de pecuária na StoneX. O Brasil é o terceiro maior consumidor de carne bovina do mundo.

Os custos de produção aumentarão a longo prazo acompanhando uma alta nos preços da terra, enquanto mais produtores devem reduzir o impacto ambiental e evitar o desmatamento para aumentar as pastagens, disse. Com o tempo, a carne bovina será artigo de luxo para consumidores em diferentes partes do mundo, disse Toledo.

EUA

Pecuaristas dos EUA têm expandido rebanhos de bovinos com expectativa de expansão da demanda na China, onde a falta de suínos chegou a provocar alta dos preços. Mas, embora os embarques tenham aumentado, nunca foi a bonança que agricultores esperavam.

Pesquisadores do Instituto de Pesquisa sobre Políticas Agrícolas e Alimentos da Universidade do Missouri preveem que o consumo de carne per capita deste ano cairá pela primeira vez desde 2014. E o indicador deve continuar caindo pelo menos até 2025.

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