O tombo do varejo freou também o mercado de maquininhas de cartão, e as cinco principais empresas do setor - Cielo, Getnet, PagSeguro, Rede e Stone- já reduzem o crédito via antecipação de recebíveis a lojistas e indicam preocupação com um provável aumento da inadimplência.
A Stone, por exemplo, afirmou em relatório a acionistas que o impacto negativo do coronavírus no primeiro trimestre foi de pelo menos R$ 61 milhões e que, dada a incerteza do cenário, a expectativa é de um aumento nos níveis de inadimplência da portfólio de crédito.
"Nossa política foi a de não emprestar para os setores considerados mais arriscados, como companhias aéreas, negócios sazonais, clientes que já tivessem um bloqueio em seus recebíveis e comerciantes expostos a altos níveis de estornos", disse a companhia no documento.
"Além disso, melhoramos significativamente nosso sistema de escore e nossa gestão de preços também oferece uma proteção significativa contra inadimplência", completaram executivos da Stone
Melhora no sistema de escore e gestão de preços significam, do lado de quem concede empréstimos, crédito a menos clientes e a taxas mais elevadas. Mas protege o acionista, preocupado com a rentabilidade dos negócios na crise.
Lojistas perceberam -e reclamaram- logo no início da pandemia da maior dificuldade de acesso a financiamento.
De acordo com dados do Banco Central, as concessões de crédito por antecipação de recebíveis caíram 61,6% em abril em comparação a março, para R$ 11,9 bilhões -o menor patamar desde maio de 2018. Já os empréstimos com descontos de duplicatas tiveram queda de 44,1%, para R$ 25,1 bilhões.
Antecipação de recebível existe quando um lojista vende no cartão de crédito (à vista ou parcelado). Geralmente ele leva 30 dias para receber pela venda, mas se quiser antes o dinheiro, antecipa com a empresa de maquininha o valor, pagando uma taxa.
Essa é uma das receitas das empresas de maquininhas -as outras são a taxa paga a cada transação e a receita com aluguel e venda de aparelhos. Mas a antecipação de recebíveis encolhe não somente pela maior seletividade na concessão do crédito, mas também pela queda nas receitas dos lojistas que, sem vendas, também não possuem recebíveis a adiantar.
Analistas que acompanham as empresas listadas em Bolsa (Cielo, PagSeguro e Stone) já haviam cortado projeções para os resultados deste ano. Mariana Taddeo e Kaio Prato, do UBS, estimaram queda de 20% no volume de transações neste ano, considerando a média das operações que passam pelas maquininhas das três companhias.
"Esperamos que os gastos do consumidor permaneçam fracos uma vez que o isolamento e o distanciamento social podem continuar naturalmente [mesmo com a reabertura da economia] e que há um aumento do desemprego, enquanto os salários diminuem", afirmaram em relatório.
No primeiro trimestre, a queda no lucro líquido e nas receitas não foi generalizada -PagSeguro e Getnet apresentaram altas de 15,2% e 24,3% nos ganhos do primeiro trimestre ante igual período de 2019-, mas o cenário é nebuloso para o segundo trimestre.
As estimativas acompanham os demais indicadores da economia, já que atividades não essenciais tiveram o primeiro mês completo de paralisação em abril, medida que se estendeu ao longo de maio em boa parte do país. A combinação de aversão ao risco e queda no varejo também afeta as empresas de capital fechado. A Rede, braço de maquininhas do Itaú Unibanco, e a Getnet, do Santander, sinalizavam queda de receita no primeiro trimestre.
No Itaú, as receitas com maquininhas caíram 33,4% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2019, reflexo do menor faturamento com antecipação de recebíveis, taxas de desconto cobradas de lojistas e aluguel dos aparelhos. O Itaú adotou uma estratégia agressiva de redução de taxas a partir de maio do ano passado, o que ajuda a explicar a forte queda na comparação anual.
O aumento da competição promovido pela Rede apareceu na fala de executivos do Santander, que apontaram a maior competição entre empresas do setor como causa para a queda de receita no primeiro trimestre.
"São dois comportamentos. Além da queda de transacionalidade entre 30% e 40% por causa da capacidade reduzida de consumo, há também um comportamento macro do setor com questões de competitividade e precificação do lado do crédito que colocam uma pressão negativa", afirmaram em coletiva para falar sobre os resultados do banco no primeiro trimestre.
Segundo os analistas do UBS, o setor pode se recuperar conforme o varejo reabre. Enfrentará, porém, o risco da crise sobre os pequenos negócios. "Uma pesquisa realizada pelo Sebrae [Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas] mostra que 30% dos comerciantes podem manter a loja aberta por apenas um mês e outros 36% por até três meses. Assim, vemos o volume total de pagamentos diminuindo até julho na base anual, com recuperação apenas no quarto trimestre deste ano", dizem os analistas do UBS em relatório.
https://www.folhape.com.br/economia/economia/economia/2020/06/03/NWS,142720,10,550,ECONOMIA,2373-MAQUININHAS-ENCOLHEM-CREDITO-VAREJO-DEVEM-PERDER-FATURAMENTO-SEGUNDO-TRIMESTRE.aspx
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